segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O esforço do Levezinho

Todos os goleadores precisam um pouco que a equipa jogue para eles. Liedson não é excepção e, quando percebe que isso não acontece, amua, arma complicações e deixa secar a fonte dos golos. Mas esta semana serviu ao Levezinho para dar alguma coisa em troca e provar que também joga para a equipa. Os adversários eram fracos – Lagoa e Beira Mar – mas o regresso de Liedson aos golos e, sobretudo, a importância que teve no desmontar dos esquemas defensivos adversários vieram mostrar que está a regressar o goleador que inspira o Sporting.
Dois golos e três assistências em dois jogos são sempre obra de realce, mas mais ainda se servem para abrir resultados. Contra o Lagoa, onde jogou como gosta, com um apoiante mais móvel – Vukcevic – a contribuir para que o espaço central não esteja permanentemente ocupado e a permitir-lhe tirar rendimento das fugas pelos corredores laterais, Liedson ofereceu o primeiro golo a Moutinho e o segundo a Abel, antes de fazer ele mesmo o terceiro. Face ao Beira Mar, onde voltou a ter o mais estático Purovic perto dele, teve mais dificuldades, mas foi sempre um oásis de mobilidade no ataque leonino, acabando por fazer ele mesmo o golo de abertura, antes de assistir Vukcevic para o terceiro.
Liedson continua a ser o melhor marcador dos leões, somadas todas as provas, mas nem o próprio hesitaria em classificar a época que está a viver como fraca. Para a salvar, tem um encontro decisivo: o FC Porto chega a Alvalade já amanhã, com 14 pontos de avanço. Já é tarde para pensar no título e deve sê-lo até para chegar à liderança dos goleadores, mas sem o esforço de Liedson o Sporting não poderá sequer manter-se à vista de Benfica e V. Guimarães na luta pelo segundo lugar e assegurar concentração competitiva para os meses que faltam da época. Pode ser um fraco consolo, mas é o que há.


A VIDA EM NÚMEROS
13 foram os golos que Liedson já marcou esta época pelo Sporting: 4 na Liga, 4 na Champions, 4 na Taça da Liga e 1 na Taça de Portugal. É pouco, mas iguala Linz e só Lisandro (15) tem mais entre os goleadores da Liga.

659 são os minutos que Liedson leva sem marcar um golo na Liga, desde o jogo com a Naval. É a maior “seca” do Levezinho em Portugal, a 71 minutos do seu máximo, os 730’ que ficou à míngua entre Corinthians e Sporting.

0 são os golos feitos por Liedson a Helton, em oito confrontos entre ambos, sempre em Portugal. Mesmo assim, o Sporting ganhou dois desses jogos. Em contrapartida, marcou duas vezes ao FC Porto, para a Liga e a Taça

2 golos de Liedson aconteceram esta época fora da área: à Naval e ao Beira Mar. Esta é uma arma recente do avançado leonino, que até esta época tinha limitado a sua eficácia aos derradeiros 16 metros.
Publicado em O Jogo, 26/01/2008

Makukula, o Benfica e a política

José António Camacho recusou-se a falar sobre a aquisição de Makukula pelo Benfica e isso é perfeitamente compreensível. “É política”, disse o treinador do Benfica, depois de, por todos os canais oficiosos ao seu dispor, a SAD ter desmentido o seu interesse no ponta-de-lança do Marítimo e da selecção. Mas é precisamente por ser política, alta-política mesmo, que o treinador tem que ter uma palavra a dizer.
Não está em causa o valor de Makukula, jogador que resistiu a uma série de infortúnios e chegou à selecção aos 26 anos. Naquele estilo, de jogador de área, de finalizador de um só toque, é o melhor ponta-de-lança português, o que lhe valerá certamente um lugar na fase final do Europeu. Mas naquele estilo, o Benfica já tem Cardozo, no qual investiu mais de nove milhões de euros há meia-dúzia de meses. E, embora possa perfeitamente jogar com dois pontas-de-lança do tipo-torre, o Benfica precisaria nesse caso de mudar de modelo de jogo, abdicando de jogadores com capacidade para jogar entre linhas, seja ao meio (Nuno Gomes, Rui Costa) ou nas alas (Di Maria, Adu), passando a ter de compor o meio-campo apenas com jogadores de maior capacidade de recuperação, como Maxi Pereyra, Petit, Binya ou Rodriguez.
Ao fim e ao cabo, ou o Benfica se prepara para gastar quatro milhões num jogador para concorrer com outro de nove milhões, o que é excelente mas parece vício de rico; ou já desistiu do de nove milhões, o que denuncia uma inconstância preocupante; ou está prestes a deixar cair nomes importantes do passado recente, como Nuno Gomes, o que prenuncia uma ruptura. Isto, sim, é política. Mas parece-me legítimo que se pergunte a Camacho se concorda com ela.

Publicado em Diário de Notícias, 28/01/2008

Um futebol a precisar de "reset"

O futebol português são, cada vez mais, dois futebóis: o dos remediados e o dos que não têm remédio. Numa altura em que FC Porto, Sporting e Benfica vivem à sombra dos resultados positivos que anunciaram para o último exercício, a Liga anunciou a Sagres como novo parceiro institucional. A conjuntura devia ser de euforia, mas não é. Os jogadores do Estrela da Amadora não se treinam porque não recebem salários há dois meses. O Boavista continua a enfrentar penhoras por causa de dívidas a ex-atletas. O V. Setúbal perde de uma vez, com o regresso de Matheus a Braga e a venda de Edinho ao AEK, 18 dos seus golos, arriscando-se a ver fugir mais uns quantos se Pitbull recuar na decisão de acreditar num projecto que, sem as outras referências atacantes, está condenado a começar a perder gás. A globalidade do futebol nacional tem a corda na garganta e só passará a viver dias mais tranquilos quando houver a coragem de questionar tudo o que diz respeito à sua organização. A verdade é que o futebol português precisa urgentemente de um Ctrl+Alt+Del. De um “reset” que lhe permita reiniciar o sistema.
Como estão as coisas, o grandes do futebol nacional perdem as estrelas para os grandes clubes europeus, nessas transacções fundando os tais resultados positivos, e vão substituí-las por soluções de baixo custo – mas rentabilidade arriscada – em mercados ainda mais alternativos do que o nosso. Não recorrem aos jogadores de classe média da nossa Liga, porque, sendo melhores, esses são também mais caros e menos apetecíveis para o mercado global do que as tais potenciais estrelas estrangeiras, e porque não estão dispostos a pagar tanto por eles como os Limassois ou os Clujs dessa Europa. Como esses jogadores de classe média também estão fartos de jogar em equipas que deviam ser de classe média como eles mas têm hábitos pagadores muito irregulares, optam mesmo pela emigração para campeonatos de terceira linha, onde ganham mais e a horas certas. E, depois de já ter perdido as estrelas para Inglaterra ou Espanha, Portugal perde também os jogadores medianos. Restam os fracos e os adolescentes estrangeiros, comprados a pensar num negócio mirabolante de exportação.
O problema é que nenhum negócio vive da exportação se não for saudável internamente. E até os patrocinadores começarão a fugir se o problema de raiz não se resolver. Se a Liga continuar a fazer jogos para mil pessoas. Se, além de os venderem no defeso, os clubes tiverem que continuar a desfazer-se dos seus melhores jogadores a meio das épocas, como fez agora o Nacional com Benaglio e pode fazer o Marítimo com Makukula. O futebol português não pode estar dependente do nascimento de uma estrela em Alcochete ou no Olival – a sua saúde tem que ser consolidada em receitas correntes. E os muitos anos de crise já deviam ter-nos ensinado que isso só se conseguirá no momento em que houver coragem política de colocar tudo em causa. No momento em que a Liga passar a ser muito mais exigente com os clubes que aceita nas suas competições, não só do ponto de vista da demonstração do cumprimento de compromissos financeiros passados mas também de prova de viabilidade do projecto e de apelo junto do público da sua região. No momento em que houver força para impor aos três grandes a necessidade de uma partilha mais democrática dos dinheiros da televisão, de forma a que os outros clubes não definhem e a competição ganhe com isso. No momento em que Liga e Federação consigam por fim desenhar um quadro competitivo que sirva os verdadeiros interesses do futebol nacional. A saber: sem jogos que acabem às 23 horas em véspera de dia de trabalho, com competições que cheguem a todo o país e não apenas ao litoral entre Braga e Setúbal, e com o necessário enquadramento para os sub-20 que ainda não têm lugar nos plantéis principais mas precisam de crescer competitivamente.
Por muito que queiram convencer-vos disso, o problema do futebol português neste momento já não é de credibilidade ou de suspeitas de corrupção. É de incapacidade para deitar fora um modelo que não serve e desenhar um completamente novo.
Publicado em Diário de Notícias, 26/01/2008

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Verdadeiros artistas são imprescindíveis

Mané Garrincha, um dos mais ferozes e geniais individualistas da história do futebol, que se valorizava de tal maneira a ele próprio que nem queria saber quem era o adversário directo em cada jogo – chamava a todos “João”, porque os considerava a todos irrelevantes – foi submetido, como toda a selecção brasileira, a uma barreira de testes psicotécnicos antes do Mundial de 1958. E a conclusão do psicólogo João Carvalhaes foi retumbante: com o mais baixo score de toda a equipa (38 pontos em 123), o ponta das pernas tornas devia ser afastado, porque não tinha capacidades psicológicas para ser integrado num colectivo. Aliás, na base da recomendação de Carvalhaes estava a certeza de que Garrincha não tinha capacidades psicológicas para fazer rigorosamente nada na vida. E, embora a posteridade da vida do futebolista – marcada pelo alcoolismo e pela miséria – tenham acabado por sublinhar os resultados dos testes, o seleccionador Vicente Feola ignorou a recomendação e não se arrependeu: foi muito à custa de Garrincha que o Brasil ganhou os Mundiais de 1958 e 1962.
Meio século passado é aceite a inclusão de individualistas numa equipa. Aliás é quase uma regra. “Uma equipa que não tem jogadores capazes de fazer a diferença por si só nunca será uma grande equipa. Nunca vi tal coisa na história”, considera Laszlo Bölöni, antigo treinador do Sporting que lançou Quaresma e Cristiano Ronaldo na equipa principal dos “leões”. “Quando tivemos grandes selecções de Portugal? Nos anos 60, quando lá estava Eusébio. Depois quando havia Figo e Rui Costa. E agora com Ronaldo, Quaresma, Simão, Deco… Esse é, por exemplo, o problema da Alemanha: tem bons jogadores mas não tem individualidades que se destaquem. Já não tem um Beckenbauer, um Overath, um Netzer”, explica ainda o técnico romeno, que actualmente treina o Al-Jazirah, dos Emiratos Árabes Unidos. Desmonta-se assim o mito das equipas oleadas, que funcionam apenas de uma forma colectiva. E ajuda a perceber a forma de actuar de jogadores como Quaresma, que drible sempre, mesmo quando perde a bola e das bancadas chegam os assobios. “Podem continuar a assobiar que eu continuo a pegar na bola e a resolver os jogos”, desabafou o extremo portista no final do jogo com Desp. Aves, onde tirou a camisola para festejar o golo com que respondeu aos apupos que se generalizavam.
É, afinal, uma reacção humana. “O individualismo é próprio das sociedades modernas e é uma característica normal do ser humano. Todos somos individualistas. Se não fossemos não éramos autónomos”, explica Duarte Araújo, professor de psicologia do desporto na Faculdade de Motricidade Humana. “O importante aqui é percebermos que para nos mantermos teremos que cooperar”, prossegue ainda aquele especialista. E está a cooperar um jogador que quer resolver tudo sozinho, a ponto de lhe ir faltando a lucidez para perceber que está a ir longe demais? “Em muitos casos, em vez de colaboração, há competição com os colegas. E a humanidade tem evoluído sobretudo pelos saltos qualitativos que são dados pela cooperação”, sintetiza Duarte Araújo. Os excessos de individualismo devem, portanto, ser refreados, mas não erradicados. “É preciso evitar os exageros, meter a capacidade individual no colectivo. Mas isso é o trabalho dos treinadores, que lhes devem modelar o jogo, e dos dirigentes, que devem ter a capacidade de enquadrá-los no colectivo”, vinca Bölöni.
Essa modelação dos individualistas pode, contudo, transformar-se num problema de difícil resolução. Nos últimos jogos, a selecção portuguesa sofreu bastante para manter uma toada contínua de jogo por ter em campo simultaneamente Quaresma e Ronaldo, dois extremos bastante individualistas. O próprio Bölöni, no ano em que teve os dois no mesmo plantel, no Sporting de 2002/03, raramente os utilizou em conjunto: juntos, fizeram apenas um jogo inteiro (empate com o Nacional) num total de 470 dos 3060 minutos que teve esse campeonato, o correspondente a 15 por cento de utilização conjunta. “Não me lembro se utilizei muitas vezes Quaresma e Ronaldo em simultâneo, mas é preciso ver que Quaresma tinha 18 anos e Ronaldo 17”, começa por explicar-se Bölöni. “Mas actualmente tê-los aos dois na mesma equipa não é um handicap: é um argumento colossal para a selecção portuguesa. Claro que podem jogar os dois na mesma equipa. Agora, é preciso compreendê-los e levá-los a desenvolver o jogo dentro do colectivo, porque caso contrário podem levar a equipa à anarquia”, considera aquele treinador.
No mesmo sentido argumenta Duarte Araújo. “A coabitação de individualistas depende do modelo de jogo definido pelo treinador. Imagine que todos eram individualistas dentro da sua área específica de actuação, que eram excelentes sem invadir as áreas dos outros. Nesse caso seria excelente. Mas isso é utópico e não pode ser conseguido maquinalmente”, diz o professor, revelando que essa coabitação pode ser trabalhada “através do estabelecimento de objectivos, que devem ser clarificados dentro do modelo de jogo pelo treinador”. Não que Quaresma precise disso. “Ele já evoluiu muito e vai continuar a evoluir, tornando-se cada vez mais eficaz. É um tipo generoso, que quer dar tudo pelos colegas e pelo seu público. E não o vejo só a driblar, vejo-o também a fazer passes decisivos e cruzamentos de caviar”, finaliza Bölöni. Para tirar tudo a limpo, é ver o jogo de amanhã.




Mau público pode arruinar um driblador
Um jogador capaz de resolver sozinho os problemas de uma equipa é o sonho de qualquer treinador, mas para isso é preciso que ele tenha a capacidade para se blindar aos apupos que podem sempre chegar das bancadas em maus momentos. Ainda há um ano, poucos meses antes de ser vendido ao Manchester United por mais de 25 milhões de euros, Nani era frequentemente assobiado em Alvalade, por um público incapaz de compreender que se lhe cortam as asas à criatividade podem estar a destruir o futebolista.
“No momento em que um grande driblador deixa de driblar perde logo 50 por cento da sua utilidade”, considera Laszlo Bölöni, que chama ainda a atenção para outro factor: é que muitos dos dribles são feitos “para agradar ao público”. O assobio continuado, contudo, pode transformar a vontade de brilhar em medo de errar e fazer de um individualista um mero autómato, pior do que os jogadores banais a fazer passes simples e sem risco. Ou, em oposição, levá-lo a exagerar nos comportamento individualistas. “O mais normal é que se entre num ciclo vicioso, em que quanto mais o público assobia mais o jogador entra em comportamentos individualistas, tentando provar que afinal é mesmo capaz de resolver o problema”, diz Duarte Araújo.

Da trivela à pedalada com vírgulas e focas
As pernas arqueadas levaram Quaresma a desenvolver um gesto contra-natura que, anos volvidos, se tornou uma das suas principais armas: o remate e o cruzamento de trivela, feitos com a parte de fora do pé e assim chamados porque recorrem a apenas três dedos para acertar na bola. Surpreendidos pela trajectória da bola – que curva ao contrário do que devia no momento de sair do pé – os defesas e os guarda-redes perdem uma fracção de segundo fundamental.
Mas há mais no futebol actual. Como a “pedalada” de Robinho, a “foca” de Kerlon, a “vírgula” de Ronaldinho ou a “letra” que até Jardel era capaz de fazer. Robinho ganhou um campeonato brasileiro para o Santos dando uma série de “pedaladas” – passar a perna sobre a bola sem a tocar à medida que se progride – em Rogério, até que o defesa o derrubou na área. Feita em velocidade, como faz Cristiano Ronaldo, a “pedalada” pode ser letal, mas nunca será tão espectacular como a “foca” celebrizada por Kerlon num Cruzeiro-Atl. Mineiro: trata-se de levar a bola em sucessivos toques de cabeça e, no caso de Kerlon, valeu-lhe uma agressão do frustrado Coelho.
Ronaldinho tem uma série de truques e executa-os como ninguém, mas a sua especialidade é mesmo a “vírgula” ou “elástico”: leva a bola colada à parte de fora do pé e, de repente, puxa-a para o outro lado com o peito do pé, de forma que ela se mova como o desenho de uma vírgula mas com tanta rapidez que parece puxada por um elástico. Mais simples de executar é a letra, uma das fixações de Jardel: passa-se o pé que vai chutar a bola por trás da outra perna, surpreendendo o adversário pela trajectória que, tal como na trivela, também é contrária ao esperado.



Dez grandes individualistas
Tim
Elba de Pádua Lima, um interior que no futebol ficou conhecido como Tim, foi o primeiro grande driblador da história do futebol. Jogou o Mundial de 1938 pelo Brasil, quando era estrela do Fluminense e já brilhara na Copa América. Capaz de um excelente corte seco, “El Peon”, como também lhe chamavam, fazia-o bem para os dois lados, o que o tornava mais difícil de parar.

Garrincha
Fazia sempre a mesma finta: parava face ao opositor – o “João” – e, no último momento, fugia para a direita. Toda a gente sabia, mas ninguém parava este ponta, bi-campeão mundial (em 1958 e 1962) pelo Brasil, a quem chamaram o “Anjo das Pertas Tortas”, porque a sua perna esquerda era seis centímetros mais curta que a direita e ambas fugiam para esse lado.

Stanley Matthews
O “Feiticeiro do drible”, como ficou conhecido este extremo direito do Stoke City e do Blackpool, entrou na história por quatro razões: jogou na I Divisão inglesa até aos 50 anos, foi o primeiro Bola de Ouro da história (em 1956, aos 31), o primeiro jogador a ser armado cavaleiro (e o único até hoje a sê-lo quando ainda jogava) e fez do drible uma arma incontornável.

Best
O “quinto Beatle”, como lhe chamaram por causa do seu modo de vida extravagante e pelas semelhanças físicas com os ídolos da pop nos anos 60, foi descoberto pela rede de olheiros do Manchester United em Belfast. Estrela precoce pela capacidade de aceleração e de drible com os dois pés, marcou uma era no futebol inglês, mas entrou em decadência antes dos 30 anos.

Maradona
O último génio individual do futebol, carregou sozinho a Argentina ao título mundial em 1986, onde assinou golos memoráveis, depois de driblar vários adversários. Chamaram-lhe “Pibe de Oro”, mas também ele se deixou seduzir pelo lado mais negro da idolatria, embrenhando-se na droga e na criminalidade. Ainda se acha vítima de uma conspiração da FIFA para o derrubar.

Vasques
O seu futebol artístico levou a que este membro dos “Cinco Violinos” ficasse conhecido como o “Malhoa”, tal era a complexidade das jogadas que pintava nos pelados. Sobrinho de outro jogador do Sporting – Soeiro – representou o clube de Alvalade durante 13 anos, ganhando oito campeonatos nacionais. Muitos devido ao seu drible curto e à rapidez com que saía de cada jogada.

Chalana
Nascido no Barreiro, como Vasques, foi no Benfica que se destacou. Chamavam-lhe “Pequeno Genial”, devido à baixa estatura e à capacidade de drible do pé esquerdo, armas que lhe valeram seis títulos nacionais em doze anos na Luz. Pelo meio, um grande Euro-84 valeu-lhe a transferência para o Bordéus graças à qual o Benfica fechou o terceiro anel do seu velho estádio.

Futre
Descoberto pelo Sporting no Montijo, cedo rumou ao FC Porto, pelo qual foi campeão da Europa, em 1987. Foi o primeiro cidadão do Mundo saído do futebol português: o drible inventivo, a velocidade e a capacidade do pé esquerdo, inspirados em Chalana, permitiram-lhe brilhar intensamente no At. Madrid e passar também por França, Itália, Inglaterra e Japão.

Dominguez
Júnior do Benfica, foi dispensado por causa da baixa estatura, e teve de brilhar nas divisões secundárias de Inglaterra, no Birmingham, antes de regressar pela porta grande, assinando pelo Sporting. Grande driblador, chegou à selecção nacional e regressou a Inglaterra, ao Tottenham, onde foi infeliz. Antes de se retirar passou ainda pela Alemanha, pelo Qatar e pelo Brasil.

Cristiano Ronaldo
Madeirense, cresceu no Sporting, onde entrou com 11 anos. Chegou à equipa principal um ano depois de Quaresma, sendo menos artístico mas mais veloz e competitivo. Por isso mesmo agarrou com ambas as mãos a oportunidade de se transferir para o Manchester United, onde a sua capacidade de conjugar velocidade com drible lhe valeu o estatuto de primeira figura.
Puiblicado em Diário de Notícias, 25/01/2008

Antevisão da 17ª jornada

SPORTING-FC PORTO
Domingo, 20h00, Sport TV 1
Leão 13 meses invicto em casa
Apesar da crise que a equipa atravessa, o Sporting só perdeu uma vez em Alvalade no último ano: foi contra o Manchester United, em jogo da Liga dos Campeões, em Setembro. Para encontrar outro desaire caseiro é preciso recuar até Dezembro de 2006, quando ali ganharam, consecutivamente, Benfica e Spartak. Os leões vêm de quatro vitórias seguidas em casa (3-0 ao Dínamo Kiev, 2-1 ao P. Ferreira, 4-0 ao Lagoa e 3-0 ao Beira Mar) mas, para a Liga, esta época, só Belenenses e V. Guimarães por ali passaram sem marcar golos.

Árbitro partilha momentos negros
Carlos Xistra esteve nos momentos mais negros das duas equipas esta época: dirigiu o FC Porto em Fátima, na eliminação da Taça da Liga, após empate a zero, e marcou presença nos 0-3 com que o Sporting baqueou em Braga. Apesar de tudo, têm sido mais felizes com ele os portistas, que não perdem para a Liga com Xistra em campo desde 23 de Fevereiro de 2002, quando o Beira Mar surpreendeu a equipa de Mourinho no Dragão por 3-2. Antes de Braga, o Sporting já perdera por 3-0 com ele em Paços de Ferreira

Dois treinadores buscam estreia
Jesualdo Ferreira não ganhou uma única de sete partidas em Alvalade, mas Paulo Bento também nunca venceu um clássico em casa. O melhor que Jesualdo conseguiu no terreno dos leões foi empatar quatro vezes (1-1 pelo Alverca, pelo Benfica e pelo FC Porto e 0-0 pelo Sp. Braga), tendo depois perdido três (0-1 pelo E. Amadora e pelo Sp. Braga e 0-2 pelos minhotos). Paulo Bento já ganhou clássicos na Luz (3-1), no Dragão (1-0) e em campo neutro (1-0), mas em casa perdeu (0-1) e empatou (1-1) com o FC Porto e perdeu com o Benfica (0-2).

Há nove jogos em alternância
Desde 2004/05 que o FC Porto não ganha duas vezes seguidas em Lisboa, alternando sempre uma vitória com um resultado menos positivo. Nessa altura, depois de já ter ganho na Luz por 1-0, repetiu o resultado no Restelo com o Belenenses. Daí para cá a alternância tem sido total: derrota em Alvalade (0-2), vitória no Restelo (2-0), derrota na Luz (0-1), vitória em Alvalade (1-0), empate em Alvalade (1-1), vitória no Restelo (1-0), empate na Luz (1-1) e vitória na Luz (1-0). Pela lógica, domingo não ganha.
V. GUIMARÃES-BENFICA
Sábado, 21h15, TVI

Vice-liderança em jogo

O Vitória tem um aliciante extra na recepção ao Benfica: se ganhar, volta pela primeira vez ao segundo lugar isolado desde Novembro de 2002. Mas nem Camacho alguma vez perdeu em Guimarães (um empate e uma vitória, marcada pela morte de Fehér, faz hoje quatro anos), nem Cajuda bateu o espanhol (tem dois empates e duas derrotas). Contudo, o técnico de Olhão não perde com o Benfica desde Março de 2004 (no Marítimo), o Vitória leva mais de um ano sem desaires em casa e o Benfica não ganha fora desde Novembro.

SP. BRAGA-BELENENSES
Hoje, 20h30, Sport TV 1

José Pedro centenário
José Pedro pode cumprir a 100ª partida na Liga, num cenário tradicionalmente complicado para os “azuis”: não ganham em Braga desde Dezembro de 2001, quando se impuseram por 3-2, de virada. Mas o momento do Sp. Braga não é fenomenal: a equipa não ganha há três jogos da Liga (Boavista, Académica e FC Porto) e passa por uma crise semelhante à de Janeiro de 2007, quando quatro jogos sem ganhar pesaram na saída de Rogério Gonçalves. Carlos Fernandes, o ex-belenense que decidiu o jogo do ano passado, está lesionado.

NACIONAL-V. SETÚBAL
Domingo, 18h00, Sport TV 1

Contra a orfandade

Duas equipas com sentimentos de orfandade: o Nacional, que tem a melhor defesa da Liga depois de FC Porto e Benfica, ficou sem o guarda-redes Diego Benaglio, que vinha com 46 jogos seguidos na baliza alvinegra; o V. Setúbal, que possui o melhor ataque a seguir aos grandes, perdeu o atacante Matheus, autor de dois golos nos últimos dois jogos (Taça de Portugal e Taça da Liga). Carvalhal defronta a equipa que lhe provocou a última chicotada psicológica, após um empate caseiro pelo Beira Mar, em Dezembro de 2006.

LEIXÕES-P. FERREIRA
Domingo, 16h00

Haverá duas sem três?

O Paços vive um momento fulgurante, muito graças ao duplo-bis de Wesley (feito inédito na carreira do jogador e na história do clube na Liga) e busca uma terceira vitória seguida que não consegue desde Dezembro de 2001, quando bateu de enfiada Marítimo, Varzim, Benfica e V. Setúbal. O confronto com o Leixões será uma estreia na Liga portuguesa mas tem passado recente no escalão secundário: o Paços ganhou os dois jogos de 2004/05, mas Jorge Gonçalves aproveitou um deles para fazer o primeiro golo pelo Leixões.

U. LEIRIA-ACADÉMICA
Domingo, 16h00

Regresso de Domingos

Jogo atípico, onde costuma ganhar o visitante: a excepção nos últimos quatro anos foi a vitória leiriense na época passada. No banco da União estava então Domingos, que foi depois despedido em Fevereiro e agora regressa após ter dado a volta à história. A União ganhou apenas três dos 29 jogos entretanto feitos, o último dos quais em Maio, seguindo por isso com uma inédita série de 18 jogos seguidos sem vitória na Liga. Por sua vez, a Académica não perde há quatro jogos, algo que não conseguia desde Maio de 2005.

NAVAL-E. AMADORA
Domingo, 16h00

Seis anos em branco

A ampla vitória sobre o Boavista, na Taça, pode acordar a Naval, que na Liga vai com quatro derrotas seguidas. O Estrela, que não faz golos fora da Reboleira desde inícios de Novembro (3-3 em Coimbra), também ficou em branco nas últimas quatro deslocações à Figueira: o último golo estrelista foi ali apontado por Cristóvão, em Setembro de 2001, num empate a uma bola na II Liga que assinalou a estreia com a camisola verde e branca de Carlitos, o jogador há mais tempo no plantel da Naval e que esta época ainda não jogou.

MARÍTIMO-BOAVISTA
Segunda-feira, 19h45, Sport TV 1

Estreias contrárias
O regresso do Boavista ao estádio onde ganhou pela última vez fora, em Maio passado (2-1) proporciona a oportunidade para Jorge Ribeiro (Boavista) e Fábio Felício (Marítimo) reencontrarem o opositor da estreia. Mas enquanto, desde 2000, em cinco confrontos (por Benfica, Varzim, Gil Vicente e Aves), Ribeiro nunca perdeu com o Marítimo, só pelos madeirenses é que, em Setembro, Felício ganhou pela primeira vez aos azadrezados, depois de seis partidas mal sucedidas por Farense, Académica e U. Leiria.
Publicado em O Jogo, 25/01/2008

Stojkovic - Apto para o clássico

A surpreendente chamada de Rui Patrício à baliza do Sporting no jogo da Taça da Liga frente ao Beira Mar pode prenunciar uma nova alteração na hierarquia das redes leoninas em vésperas de um clássico. O jovem português estava a ser titular na Liga, relegando o sérvio Stojkovic para um papel secundário, na Taça de Portugal e na Taça da Liga, mas a aproximação do jogo com o FC Porto pode ter levado Paulo Bento a pensar no caso e a devolver a responsabilidade ao estrangeiro. É que Stojkovic parece fadado para clássicos: já fez cinco e neles sofreu apenas um golo, marcado por Raul Meireles na partida da primeira volta.
Depois de dois anos emprestado ao Zemun, Stojkovic estreou-se com a camisola do poderoso Estrela Vermelha na Liga da Sérvia precisamente em vésperas de um clássico contra o Partizan: nele, em Outubro de 2005, conseguiu a sua primeira baliza virgem, graças a uma vitória por 2-0. Ainda nessa época, esteve no 0-0 do jogo de retribuição, em Abril de 2006. E já pelo Sporting teve um clássico a assinalar-lhe a estreia: vitória por 1-0 na Supertaça. Desde então jogou mais duas partidas de emoções fortes, perdendo por 1-0 com o FC Porto no Dragão e empatando a zero com o Benfica na Luz.
De todos os guarda-redes leoninos que jogaram clássicos nos últimos dez anos, Stojkovic é aquele que tem menor média de golos sofridos por jogo: apenas 0,3, valores mais baixos que os de De Wilde (0,5) e Schmeichel (0,8). São curiosamente três estrangeiros quem ocupa as melhores posições, muito à frente de Ricardo (1,2), Nelson (1,6) e Tiago (2,1). E Stojkovic destaca-se também pelo total de redes invioladas que conseguiu manter em clássicos: mesmo em apenas três jogos já soma duas, tantas quantas fez Ricardo em 16 partidas. Neste particular, apenas Schmeichel, com cinco, o supera.


GUARDA-REDES EM CLÁSSICOS DA ÚLTIMA DÉCADA
Guarda-redes J V E D GS Méd BV
Ricardo 16 5 5 6 20 1,2 2
Schmeichel 12 4 5 3 10 0,8 5
Nelson 11 3 3 5 18 1,6 1
Tiago 8 1 3 4 17 2,1 1
Stojkovic 3 1 1 1 1 0,3 2
De Wilde 2 0 2 0 1 0,5 1
Legenda: J- Jogos; V – Vitórias; E – Empates; D – Derrotas; GS – Golos Sofridos: Méd. – Média; BV – Balizas virgens

OS CLÁSSICOS DE STOJKOVIC
Época Prova Resultado
2005/06 Liga Sérvia E. Vernelha 2, Partizan 0
2005/06 Liga Sérvia Partizan 0, E. Vermelha 0
2007/08 Supertaça Sporting 1, FC Porto 0
2007/08 Liga Portugal FC Porto 1, Sporting 0
2007/08 Liga Portugal Benfica 0, Sporting 0
Publicado em O Jogo, 25/01/2008

Helton - A besta negra de Liedson

Desde que marcou à Naval, em inícios de Novembro, Liedson já fez golos na Liga dos Campeões, na Taça de Portugal e na Taça da Liga, mas nada disso impede que esteja a atravessar a maior seca goleadora da sua carreira no campeonato português. São já 659 minutos sem marcar na Liga e, para evitar o estabelecimento de um novo máximo pessoal – esteve 730 minutos sem golos na transição entre o Corinthians e o Sporting, em 2003 – sabe que precisa de enfrentar Helton, a sua “besta negra”, um guarda-redes ao qual nunca fez um único golo.
Nas oito vezes que os dois se defrontaram – sempre em Portugal, porque a chegada de Liedson ao Flamengo, em Julho de 2002, coincidiu com a passagem de Helton do Vasco para a U. Leiria – o “Levezinho” jogou sempre os 90 minutos mas nunca marcou um único golo. E Helton aproveitou esse facto para ter um registo positivo neste confronto: ganhou três jogos e perdeu apenas dois. Curiosamente, nas duas vezes que defrontou o Sporting sem Liedson (na estreia, em 2002/03, e na época passada, no Dragão), o guardião brasileiro nunca venceu.
A dificuldade de Liedson para marcar golos a Helton pode ser justificada com o “modus operandi” do goleador leonino e com o facto de ele não se encaixar nas debilidades do guardião portista. Cinco dos últimos dez golos de Liedson na Liga foram obtidos de cabeça, mas apenas um deles (à Académica, já esta época) apareceu no seguimento de um lance de bola parada. Em contrapartida, Helton sofre golos sobretudo em bolas paradas: foi assim que encaixou seis dos últimos dez golos na Liga.


HELTON CONTRA LIEDSON
Época Jogo Golos sofridos
2003/04 Sporting 2, U. Leiria 0 Lourenço e P. Barbosa (gp)
2003/04 U. Leiria 1, Sporting 0 -
2004/05 Sporting 2, U. Leiria 2 Rogério e Beto
2004/05 U. Leiria 0, Sporting 0 -
2005/06 Sporting 0, FC Porto 1 -
2006/07 Sporting 1, FC Porto 1 Yannick
2007/08 Sporting 1, FC Porto 0 Izmailov
2007/08 FC Porto 1, Sporting 0 -

ÚLTIMOS 10 GOLOS A HELTON NA LIGA
Autor Como com o quê
Lipatin Remate de fora área pé direito
Mateus penalti pé direito
Maurício Livre indirecto de meio-campo cabeça
Zé Pedro Isolado na cara do g. redes pé esquerdo
João Pinto Passe rasteiro da esquerda pé direito
Moreira Livre indirecto da direita pé direito
Antunes Livre directo na meia direita pé esquerdo
Ricardo Silva Canto da esquerda devolvido cabeça
Zé Manuel Isolado na cara do g. redes pé direito
Nivaldo Canto da direita cabeça

ÚLTIMOS 10 GOLOS DE LIEDSON NA LIGA
Adversário Como com o quê
Naval Remate de fora área pé esquerdo
E. Amadora Isolado na cara do g. redes pé direito
Belenenses Cruzamento da esquerda cabeça
Académica Livre indirecto da direita cabeça
Belenenses Isolado na cara do g. redes pé direito
Académica Cruzamento da esquerda pé direito
V. Setúbal Cruzamento da direita cabeça
V. Setúbal Cruzamento da direita cabeça
Benfica Cruzamento da direita cabeça
Marítimo Isolado na cara do g. redes pé direito