Está arrumada a questão dos regulamentos e a inevitável perda de seis pontos por parte do Belenenses, devido à utilização irregular de Meyong. Dentro do clube, também já se fez justiça, com o despedimento de Carlos Janela, considerado único responsável pelo imbróglio, que nasceu da aliança entre o desconhecimento do percurso do jogador nesta temporada e de um intrigante esquecimento daquilo que está definido nos regulamentos. Mas, e o jogador? Deve ficar sem jogar até final da temporada? Isso é justo para ele e para quem lhe paga os salários?
TESE
Há que defender
integridade da prova
Uma das críticas que mais se ouve à modernidade do futebol é a sua transformação num negócio, que inevitavelmente conduz à perda de identidade das equipas e dos próprios campeonatos. Tanto a FIFA como a UEFA, pela voz dos seus presidentes, Sepp Blatter e Michel Platini, criticam o facto de em muitos campeonatos haver cada vez mais atletas estrangeiros, o que deita por terra quaisquer estilos que estes pudessem ter ou até a própria identificação dos adeptos com os clubes. Ora uma das formas de defender esta integridade das provas e das equipas é limitar a mudança indiscriminada de jogadores.
Se há dois períodos de transferências definidos pela regulamentação – entre o final de uma época e o início da seguinte e, depois, uma janela de quatro semanas a meio da época, que costuma apontar para Janeiro – não há razões para que um futebolista queira mudar de clube mais de duas vezes num ano. Daí que seja perfeitamente justo que se introduza na lei a limitação à sua utilização na mesma época desportiva por dois clubes. Pode parecer ridículo que depois o mesmo jogador possa ser inscrito por três equipas na mesma época, mas essa excepção destina-se a proteger jogadores que, tendo mudado de clube já depois do início de uma época, acabem por ter problemas de adaptação no segundo clube: ao poderem inscrever-se desde logo por um terceiro, mesmo que só possam jogar na época seguinte, é-lhes salvaguardado o direito ao trabalho.
Meyong começou a época no Levante, tendo depois sido emprestado, sucessivamente, ao Albacete e ao Belenenses. Ao entrar em campo contra a Naval, cometeu uma irregularidade que tanto ele – ou os seus representantes – como os responsáveis do clube deviam conhecer. Resta-lhes cumprir a pena.
ANTÍTESE
Culpado apenas
por desconhecimento
O caso de Meyong é claro. Não houve intenção de driblar a lei ou abuso de movimentação de mercado para facturar milhões. O jogador desconhecia os regulamentos, será culpado apenas de não se ter feito acompanhar do seu empresário nas negociações com o Belenenses. E se jogou por três clubes foi apenas por causa da indecisão do clube detentor do passe, o Levante, que começou por mantê-lo no plantel até finais de Agosto e depois o dispensou.
Em nenhuma parte dos seus regulamentos a FIFA obriga um jogador a fazer-se acompanhar de empresário quando negoceia um contrato com um clube – exige apenas que, se for esse o caso, isso seja indicado. Neste caso, o desconhecimento da lei é evidente e nasce precisamente daí a mudança para o Belenenses: Meyong queria apenas voltar a ser feliz num clube onde já se sentiu integrado e de que é mesmo uma das figuras do passado recente. Não se colocava também, por isso, a questão da perda de identidade: os adeptos do Belenenses continuam a ver no camaronês um dos deles. E também não é de todo a componente-negócio a impor a sua lei, pois a mudança para o Belenenses até foi feita a custo-zero.
Neste caso, alguém – fosse a Federação Espanhola, que enviou o certificado internacional para Portugal, fosse a Federação Portuguesa, que tinha de enviar ao clube o “passaporte do jogador”, com todos os seus registos tornado obrigatório pela regulamentação internacional – devia ter informado Meyong de que não poderia jogar pelo Belenenses. E se ficar provado que ninguém lhe disse, o jogador deveria pelo menos ser autorizado a regressar ao Levante ou ao Albacete, os clubes pelos quais já jogou esta época. Porque aí, sim, pode estar em causa o direito ao trabalho.
SÍNTESE
Meyong é culpado por desconhecimento, o Belenenses por incompetência. De um lado e de outro, não existe intenção de cometer a irregularidade, mas é evidente que as leis não podem aplicar-se apenas a quem pretende quebrá-las, pelo que tanto o jogador como o clube serão punidos. De qualquer modo, o caso devia servir para que as Ligas passassem a cumprir melhor a letra da lei. E esta estipula que, idealmente, o mercado de Verão deva encerrar assim que começa a época de competições. Se assim fosse, não haveria caso-Meyong.
Publicado em "O Jogo", 17/01/2008
TESE
Há que defender
integridade da prova
Uma das críticas que mais se ouve à modernidade do futebol é a sua transformação num negócio, que inevitavelmente conduz à perda de identidade das equipas e dos próprios campeonatos. Tanto a FIFA como a UEFA, pela voz dos seus presidentes, Sepp Blatter e Michel Platini, criticam o facto de em muitos campeonatos haver cada vez mais atletas estrangeiros, o que deita por terra quaisquer estilos que estes pudessem ter ou até a própria identificação dos adeptos com os clubes. Ora uma das formas de defender esta integridade das provas e das equipas é limitar a mudança indiscriminada de jogadores.
Se há dois períodos de transferências definidos pela regulamentação – entre o final de uma época e o início da seguinte e, depois, uma janela de quatro semanas a meio da época, que costuma apontar para Janeiro – não há razões para que um futebolista queira mudar de clube mais de duas vezes num ano. Daí que seja perfeitamente justo que se introduza na lei a limitação à sua utilização na mesma época desportiva por dois clubes. Pode parecer ridículo que depois o mesmo jogador possa ser inscrito por três equipas na mesma época, mas essa excepção destina-se a proteger jogadores que, tendo mudado de clube já depois do início de uma época, acabem por ter problemas de adaptação no segundo clube: ao poderem inscrever-se desde logo por um terceiro, mesmo que só possam jogar na época seguinte, é-lhes salvaguardado o direito ao trabalho.
Meyong começou a época no Levante, tendo depois sido emprestado, sucessivamente, ao Albacete e ao Belenenses. Ao entrar em campo contra a Naval, cometeu uma irregularidade que tanto ele – ou os seus representantes – como os responsáveis do clube deviam conhecer. Resta-lhes cumprir a pena.
ANTÍTESE
Culpado apenas
por desconhecimento
O caso de Meyong é claro. Não houve intenção de driblar a lei ou abuso de movimentação de mercado para facturar milhões. O jogador desconhecia os regulamentos, será culpado apenas de não se ter feito acompanhar do seu empresário nas negociações com o Belenenses. E se jogou por três clubes foi apenas por causa da indecisão do clube detentor do passe, o Levante, que começou por mantê-lo no plantel até finais de Agosto e depois o dispensou.
Em nenhuma parte dos seus regulamentos a FIFA obriga um jogador a fazer-se acompanhar de empresário quando negoceia um contrato com um clube – exige apenas que, se for esse o caso, isso seja indicado. Neste caso, o desconhecimento da lei é evidente e nasce precisamente daí a mudança para o Belenenses: Meyong queria apenas voltar a ser feliz num clube onde já se sentiu integrado e de que é mesmo uma das figuras do passado recente. Não se colocava também, por isso, a questão da perda de identidade: os adeptos do Belenenses continuam a ver no camaronês um dos deles. E também não é de todo a componente-negócio a impor a sua lei, pois a mudança para o Belenenses até foi feita a custo-zero.
Neste caso, alguém – fosse a Federação Espanhola, que enviou o certificado internacional para Portugal, fosse a Federação Portuguesa, que tinha de enviar ao clube o “passaporte do jogador”, com todos os seus registos tornado obrigatório pela regulamentação internacional – devia ter informado Meyong de que não poderia jogar pelo Belenenses. E se ficar provado que ninguém lhe disse, o jogador deveria pelo menos ser autorizado a regressar ao Levante ou ao Albacete, os clubes pelos quais já jogou esta época. Porque aí, sim, pode estar em causa o direito ao trabalho.
SÍNTESE
Meyong é culpado por desconhecimento, o Belenenses por incompetência. De um lado e de outro, não existe intenção de cometer a irregularidade, mas é evidente que as leis não podem aplicar-se apenas a quem pretende quebrá-las, pelo que tanto o jogador como o clube serão punidos. De qualquer modo, o caso devia servir para que as Ligas passassem a cumprir melhor a letra da lei. E esta estipula que, idealmente, o mercado de Verão deva encerrar assim que começa a época de competições. Se assim fosse, não haveria caso-Meyong.
Publicado em "O Jogo", 17/01/2008
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