segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Makukula, o Benfica e a política

José António Camacho recusou-se a falar sobre a aquisição de Makukula pelo Benfica e isso é perfeitamente compreensível. “É política”, disse o treinador do Benfica, depois de, por todos os canais oficiosos ao seu dispor, a SAD ter desmentido o seu interesse no ponta-de-lança do Marítimo e da selecção. Mas é precisamente por ser política, alta-política mesmo, que o treinador tem que ter uma palavra a dizer.
Não está em causa o valor de Makukula, jogador que resistiu a uma série de infortúnios e chegou à selecção aos 26 anos. Naquele estilo, de jogador de área, de finalizador de um só toque, é o melhor ponta-de-lança português, o que lhe valerá certamente um lugar na fase final do Europeu. Mas naquele estilo, o Benfica já tem Cardozo, no qual investiu mais de nove milhões de euros há meia-dúzia de meses. E, embora possa perfeitamente jogar com dois pontas-de-lança do tipo-torre, o Benfica precisaria nesse caso de mudar de modelo de jogo, abdicando de jogadores com capacidade para jogar entre linhas, seja ao meio (Nuno Gomes, Rui Costa) ou nas alas (Di Maria, Adu), passando a ter de compor o meio-campo apenas com jogadores de maior capacidade de recuperação, como Maxi Pereyra, Petit, Binya ou Rodriguez.
Ao fim e ao cabo, ou o Benfica se prepara para gastar quatro milhões num jogador para concorrer com outro de nove milhões, o que é excelente mas parece vício de rico; ou já desistiu do de nove milhões, o que denuncia uma inconstância preocupante; ou está prestes a deixar cair nomes importantes do passado recente, como Nuno Gomes, o que prenuncia uma ruptura. Isto, sim, é política. Mas parece-me legítimo que se pergunte a Camacho se concorda com ela.

Publicado em Diário de Notícias, 28/01/2008

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