segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Ao telefone com o futuro

A quem telefona Lisandro Lopez quando festeja os seus golos? À família que deixou na Argentina? Aos colegas que estão fora de campo? Aos adeptos que o vêem das bancadas? Ao treinador, a agradecer-lhe a confiança? A Alfio Basile, para o convencer a chamá-lo de volta à selecção argentina, onde não joga desde que trocou o Racing pelo FC Porto, em 2005? Sempre que marca – e esta época já o fez quase tantas vezes como nas últimas duas somadas – o melhor goleador da Liga agita uma mão junto à face, com o polegar e o dedo mindinho esticados, repetindo um gesto que a mímica consagrou como sendo o de um telefonema. Mistério.
Foi isso que Lisandro fez duas vezes no desafio com o Sp. Braga. A primeira logo no início da partida, quando se limitou a tocar um cruzamento vindo da direita de forma pouco ortodoxa, desviando a medo a bola de uma saída desastrada de Paulo Santos – como desastrado fora o modo como Miguelito perdeu a bola. A segunda perto do final, após assistência do seu compatriota Farias, num volei exemplar, que já se tornou uma das suas imagens de marca de goleador.
Até há pouco tempo, Lisandro tinha outra forma de celebrar os seus golos: batia na própria cabeça com a palma da mão, fixando o pulso na nuca, o que também era estranho, sobretudo num jogador que não faz do jogo aéreo mas sim da conjugação do domínio de peito e do remate pronto a sua principal arma ofensiva. Mas quando se percebe que a mudança na forma de celebrar se deu em Dezembro, após a vitória do FC Porto na Luz e o alargamento da vantagem para dimensões irrevogáveis, pode adivinhar-se com quem fala o goleador argentino. Lisandro está ao telefone com o futuro, a encomendar as faixas de tri-campeão nacional para as quais tanto tem contribuído. E elas vêm a caminho.


A VIDA EM NÚMEROS
8 foram os jogos em que Lisandro Lopez bisou com a camisola do FC Porto, quatro dos quais esta época (Paços de Ferreira, Boavista, Leixões e Sp. Braga). No Racing, tinha bisado três vezes.

0 foram os “hat-tricks” de Lisandro Lopez em toda a sua carreira. Aliás, é preciso recuar até 9 de Maio de 2004 para encontrar um “hat-trick” de um portista: foi McCarthy o autor do último, face ao Paços de Ferreira.

15 golos já marcou Lisandro Lopez esta época, 13 na Liga e dois na Liga dos Campeões. Ao todo, nas duas temporadas anteriores pelo FC Porto, tinha feito 18: oito na primeira época e 10 na segunda.

3 dos golos de Lisandro Lopez esta época foram obtidos nos primeiros cinco minutos de jogo: a Leixões, V. Setúbal e Sp. Braga. Antes, em toda a carreira, só duas vezes o argentino acordara tão cedo: uma pelo FC Porto e outra no Racing.
Publicado em O Jogo, 19/01/2008

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