segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O esforço do Levezinho

Todos os goleadores precisam um pouco que a equipa jogue para eles. Liedson não é excepção e, quando percebe que isso não acontece, amua, arma complicações e deixa secar a fonte dos golos. Mas esta semana serviu ao Levezinho para dar alguma coisa em troca e provar que também joga para a equipa. Os adversários eram fracos – Lagoa e Beira Mar – mas o regresso de Liedson aos golos e, sobretudo, a importância que teve no desmontar dos esquemas defensivos adversários vieram mostrar que está a regressar o goleador que inspira o Sporting.
Dois golos e três assistências em dois jogos são sempre obra de realce, mas mais ainda se servem para abrir resultados. Contra o Lagoa, onde jogou como gosta, com um apoiante mais móvel – Vukcevic – a contribuir para que o espaço central não esteja permanentemente ocupado e a permitir-lhe tirar rendimento das fugas pelos corredores laterais, Liedson ofereceu o primeiro golo a Moutinho e o segundo a Abel, antes de fazer ele mesmo o terceiro. Face ao Beira Mar, onde voltou a ter o mais estático Purovic perto dele, teve mais dificuldades, mas foi sempre um oásis de mobilidade no ataque leonino, acabando por fazer ele mesmo o golo de abertura, antes de assistir Vukcevic para o terceiro.
Liedson continua a ser o melhor marcador dos leões, somadas todas as provas, mas nem o próprio hesitaria em classificar a época que está a viver como fraca. Para a salvar, tem um encontro decisivo: o FC Porto chega a Alvalade já amanhã, com 14 pontos de avanço. Já é tarde para pensar no título e deve sê-lo até para chegar à liderança dos goleadores, mas sem o esforço de Liedson o Sporting não poderá sequer manter-se à vista de Benfica e V. Guimarães na luta pelo segundo lugar e assegurar concentração competitiva para os meses que faltam da época. Pode ser um fraco consolo, mas é o que há.


A VIDA EM NÚMEROS
13 foram os golos que Liedson já marcou esta época pelo Sporting: 4 na Liga, 4 na Champions, 4 na Taça da Liga e 1 na Taça de Portugal. É pouco, mas iguala Linz e só Lisandro (15) tem mais entre os goleadores da Liga.

659 são os minutos que Liedson leva sem marcar um golo na Liga, desde o jogo com a Naval. É a maior “seca” do Levezinho em Portugal, a 71 minutos do seu máximo, os 730’ que ficou à míngua entre Corinthians e Sporting.

0 são os golos feitos por Liedson a Helton, em oito confrontos entre ambos, sempre em Portugal. Mesmo assim, o Sporting ganhou dois desses jogos. Em contrapartida, marcou duas vezes ao FC Porto, para a Liga e a Taça

2 golos de Liedson aconteceram esta época fora da área: à Naval e ao Beira Mar. Esta é uma arma recente do avançado leonino, que até esta época tinha limitado a sua eficácia aos derradeiros 16 metros.
Publicado em O Jogo, 26/01/2008

Makukula, o Benfica e a política

José António Camacho recusou-se a falar sobre a aquisição de Makukula pelo Benfica e isso é perfeitamente compreensível. “É política”, disse o treinador do Benfica, depois de, por todos os canais oficiosos ao seu dispor, a SAD ter desmentido o seu interesse no ponta-de-lança do Marítimo e da selecção. Mas é precisamente por ser política, alta-política mesmo, que o treinador tem que ter uma palavra a dizer.
Não está em causa o valor de Makukula, jogador que resistiu a uma série de infortúnios e chegou à selecção aos 26 anos. Naquele estilo, de jogador de área, de finalizador de um só toque, é o melhor ponta-de-lança português, o que lhe valerá certamente um lugar na fase final do Europeu. Mas naquele estilo, o Benfica já tem Cardozo, no qual investiu mais de nove milhões de euros há meia-dúzia de meses. E, embora possa perfeitamente jogar com dois pontas-de-lança do tipo-torre, o Benfica precisaria nesse caso de mudar de modelo de jogo, abdicando de jogadores com capacidade para jogar entre linhas, seja ao meio (Nuno Gomes, Rui Costa) ou nas alas (Di Maria, Adu), passando a ter de compor o meio-campo apenas com jogadores de maior capacidade de recuperação, como Maxi Pereyra, Petit, Binya ou Rodriguez.
Ao fim e ao cabo, ou o Benfica se prepara para gastar quatro milhões num jogador para concorrer com outro de nove milhões, o que é excelente mas parece vício de rico; ou já desistiu do de nove milhões, o que denuncia uma inconstância preocupante; ou está prestes a deixar cair nomes importantes do passado recente, como Nuno Gomes, o que prenuncia uma ruptura. Isto, sim, é política. Mas parece-me legítimo que se pergunte a Camacho se concorda com ela.

Publicado em Diário de Notícias, 28/01/2008

Um futebol a precisar de "reset"

O futebol português são, cada vez mais, dois futebóis: o dos remediados e o dos que não têm remédio. Numa altura em que FC Porto, Sporting e Benfica vivem à sombra dos resultados positivos que anunciaram para o último exercício, a Liga anunciou a Sagres como novo parceiro institucional. A conjuntura devia ser de euforia, mas não é. Os jogadores do Estrela da Amadora não se treinam porque não recebem salários há dois meses. O Boavista continua a enfrentar penhoras por causa de dívidas a ex-atletas. O V. Setúbal perde de uma vez, com o regresso de Matheus a Braga e a venda de Edinho ao AEK, 18 dos seus golos, arriscando-se a ver fugir mais uns quantos se Pitbull recuar na decisão de acreditar num projecto que, sem as outras referências atacantes, está condenado a começar a perder gás. A globalidade do futebol nacional tem a corda na garganta e só passará a viver dias mais tranquilos quando houver a coragem de questionar tudo o que diz respeito à sua organização. A verdade é que o futebol português precisa urgentemente de um Ctrl+Alt+Del. De um “reset” que lhe permita reiniciar o sistema.
Como estão as coisas, o grandes do futebol nacional perdem as estrelas para os grandes clubes europeus, nessas transacções fundando os tais resultados positivos, e vão substituí-las por soluções de baixo custo – mas rentabilidade arriscada – em mercados ainda mais alternativos do que o nosso. Não recorrem aos jogadores de classe média da nossa Liga, porque, sendo melhores, esses são também mais caros e menos apetecíveis para o mercado global do que as tais potenciais estrelas estrangeiras, e porque não estão dispostos a pagar tanto por eles como os Limassois ou os Clujs dessa Europa. Como esses jogadores de classe média também estão fartos de jogar em equipas que deviam ser de classe média como eles mas têm hábitos pagadores muito irregulares, optam mesmo pela emigração para campeonatos de terceira linha, onde ganham mais e a horas certas. E, depois de já ter perdido as estrelas para Inglaterra ou Espanha, Portugal perde também os jogadores medianos. Restam os fracos e os adolescentes estrangeiros, comprados a pensar num negócio mirabolante de exportação.
O problema é que nenhum negócio vive da exportação se não for saudável internamente. E até os patrocinadores começarão a fugir se o problema de raiz não se resolver. Se a Liga continuar a fazer jogos para mil pessoas. Se, além de os venderem no defeso, os clubes tiverem que continuar a desfazer-se dos seus melhores jogadores a meio das épocas, como fez agora o Nacional com Benaglio e pode fazer o Marítimo com Makukula. O futebol português não pode estar dependente do nascimento de uma estrela em Alcochete ou no Olival – a sua saúde tem que ser consolidada em receitas correntes. E os muitos anos de crise já deviam ter-nos ensinado que isso só se conseguirá no momento em que houver coragem política de colocar tudo em causa. No momento em que a Liga passar a ser muito mais exigente com os clubes que aceita nas suas competições, não só do ponto de vista da demonstração do cumprimento de compromissos financeiros passados mas também de prova de viabilidade do projecto e de apelo junto do público da sua região. No momento em que houver força para impor aos três grandes a necessidade de uma partilha mais democrática dos dinheiros da televisão, de forma a que os outros clubes não definhem e a competição ganhe com isso. No momento em que Liga e Federação consigam por fim desenhar um quadro competitivo que sirva os verdadeiros interesses do futebol nacional. A saber: sem jogos que acabem às 23 horas em véspera de dia de trabalho, com competições que cheguem a todo o país e não apenas ao litoral entre Braga e Setúbal, e com o necessário enquadramento para os sub-20 que ainda não têm lugar nos plantéis principais mas precisam de crescer competitivamente.
Por muito que queiram convencer-vos disso, o problema do futebol português neste momento já não é de credibilidade ou de suspeitas de corrupção. É de incapacidade para deitar fora um modelo que não serve e desenhar um completamente novo.
Publicado em Diário de Notícias, 26/01/2008

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Verdadeiros artistas são imprescindíveis

Mané Garrincha, um dos mais ferozes e geniais individualistas da história do futebol, que se valorizava de tal maneira a ele próprio que nem queria saber quem era o adversário directo em cada jogo – chamava a todos “João”, porque os considerava a todos irrelevantes – foi submetido, como toda a selecção brasileira, a uma barreira de testes psicotécnicos antes do Mundial de 1958. E a conclusão do psicólogo João Carvalhaes foi retumbante: com o mais baixo score de toda a equipa (38 pontos em 123), o ponta das pernas tornas devia ser afastado, porque não tinha capacidades psicológicas para ser integrado num colectivo. Aliás, na base da recomendação de Carvalhaes estava a certeza de que Garrincha não tinha capacidades psicológicas para fazer rigorosamente nada na vida. E, embora a posteridade da vida do futebolista – marcada pelo alcoolismo e pela miséria – tenham acabado por sublinhar os resultados dos testes, o seleccionador Vicente Feola ignorou a recomendação e não se arrependeu: foi muito à custa de Garrincha que o Brasil ganhou os Mundiais de 1958 e 1962.
Meio século passado é aceite a inclusão de individualistas numa equipa. Aliás é quase uma regra. “Uma equipa que não tem jogadores capazes de fazer a diferença por si só nunca será uma grande equipa. Nunca vi tal coisa na história”, considera Laszlo Bölöni, antigo treinador do Sporting que lançou Quaresma e Cristiano Ronaldo na equipa principal dos “leões”. “Quando tivemos grandes selecções de Portugal? Nos anos 60, quando lá estava Eusébio. Depois quando havia Figo e Rui Costa. E agora com Ronaldo, Quaresma, Simão, Deco… Esse é, por exemplo, o problema da Alemanha: tem bons jogadores mas não tem individualidades que se destaquem. Já não tem um Beckenbauer, um Overath, um Netzer”, explica ainda o técnico romeno, que actualmente treina o Al-Jazirah, dos Emiratos Árabes Unidos. Desmonta-se assim o mito das equipas oleadas, que funcionam apenas de uma forma colectiva. E ajuda a perceber a forma de actuar de jogadores como Quaresma, que drible sempre, mesmo quando perde a bola e das bancadas chegam os assobios. “Podem continuar a assobiar que eu continuo a pegar na bola e a resolver os jogos”, desabafou o extremo portista no final do jogo com Desp. Aves, onde tirou a camisola para festejar o golo com que respondeu aos apupos que se generalizavam.
É, afinal, uma reacção humana. “O individualismo é próprio das sociedades modernas e é uma característica normal do ser humano. Todos somos individualistas. Se não fossemos não éramos autónomos”, explica Duarte Araújo, professor de psicologia do desporto na Faculdade de Motricidade Humana. “O importante aqui é percebermos que para nos mantermos teremos que cooperar”, prossegue ainda aquele especialista. E está a cooperar um jogador que quer resolver tudo sozinho, a ponto de lhe ir faltando a lucidez para perceber que está a ir longe demais? “Em muitos casos, em vez de colaboração, há competição com os colegas. E a humanidade tem evoluído sobretudo pelos saltos qualitativos que são dados pela cooperação”, sintetiza Duarte Araújo. Os excessos de individualismo devem, portanto, ser refreados, mas não erradicados. “É preciso evitar os exageros, meter a capacidade individual no colectivo. Mas isso é o trabalho dos treinadores, que lhes devem modelar o jogo, e dos dirigentes, que devem ter a capacidade de enquadrá-los no colectivo”, vinca Bölöni.
Essa modelação dos individualistas pode, contudo, transformar-se num problema de difícil resolução. Nos últimos jogos, a selecção portuguesa sofreu bastante para manter uma toada contínua de jogo por ter em campo simultaneamente Quaresma e Ronaldo, dois extremos bastante individualistas. O próprio Bölöni, no ano em que teve os dois no mesmo plantel, no Sporting de 2002/03, raramente os utilizou em conjunto: juntos, fizeram apenas um jogo inteiro (empate com o Nacional) num total de 470 dos 3060 minutos que teve esse campeonato, o correspondente a 15 por cento de utilização conjunta. “Não me lembro se utilizei muitas vezes Quaresma e Ronaldo em simultâneo, mas é preciso ver que Quaresma tinha 18 anos e Ronaldo 17”, começa por explicar-se Bölöni. “Mas actualmente tê-los aos dois na mesma equipa não é um handicap: é um argumento colossal para a selecção portuguesa. Claro que podem jogar os dois na mesma equipa. Agora, é preciso compreendê-los e levá-los a desenvolver o jogo dentro do colectivo, porque caso contrário podem levar a equipa à anarquia”, considera aquele treinador.
No mesmo sentido argumenta Duarte Araújo. “A coabitação de individualistas depende do modelo de jogo definido pelo treinador. Imagine que todos eram individualistas dentro da sua área específica de actuação, que eram excelentes sem invadir as áreas dos outros. Nesse caso seria excelente. Mas isso é utópico e não pode ser conseguido maquinalmente”, diz o professor, revelando que essa coabitação pode ser trabalhada “através do estabelecimento de objectivos, que devem ser clarificados dentro do modelo de jogo pelo treinador”. Não que Quaresma precise disso. “Ele já evoluiu muito e vai continuar a evoluir, tornando-se cada vez mais eficaz. É um tipo generoso, que quer dar tudo pelos colegas e pelo seu público. E não o vejo só a driblar, vejo-o também a fazer passes decisivos e cruzamentos de caviar”, finaliza Bölöni. Para tirar tudo a limpo, é ver o jogo de amanhã.




Mau público pode arruinar um driblador
Um jogador capaz de resolver sozinho os problemas de uma equipa é o sonho de qualquer treinador, mas para isso é preciso que ele tenha a capacidade para se blindar aos apupos que podem sempre chegar das bancadas em maus momentos. Ainda há um ano, poucos meses antes de ser vendido ao Manchester United por mais de 25 milhões de euros, Nani era frequentemente assobiado em Alvalade, por um público incapaz de compreender que se lhe cortam as asas à criatividade podem estar a destruir o futebolista.
“No momento em que um grande driblador deixa de driblar perde logo 50 por cento da sua utilidade”, considera Laszlo Bölöni, que chama ainda a atenção para outro factor: é que muitos dos dribles são feitos “para agradar ao público”. O assobio continuado, contudo, pode transformar a vontade de brilhar em medo de errar e fazer de um individualista um mero autómato, pior do que os jogadores banais a fazer passes simples e sem risco. Ou, em oposição, levá-lo a exagerar nos comportamento individualistas. “O mais normal é que se entre num ciclo vicioso, em que quanto mais o público assobia mais o jogador entra em comportamentos individualistas, tentando provar que afinal é mesmo capaz de resolver o problema”, diz Duarte Araújo.

Da trivela à pedalada com vírgulas e focas
As pernas arqueadas levaram Quaresma a desenvolver um gesto contra-natura que, anos volvidos, se tornou uma das suas principais armas: o remate e o cruzamento de trivela, feitos com a parte de fora do pé e assim chamados porque recorrem a apenas três dedos para acertar na bola. Surpreendidos pela trajectória da bola – que curva ao contrário do que devia no momento de sair do pé – os defesas e os guarda-redes perdem uma fracção de segundo fundamental.
Mas há mais no futebol actual. Como a “pedalada” de Robinho, a “foca” de Kerlon, a “vírgula” de Ronaldinho ou a “letra” que até Jardel era capaz de fazer. Robinho ganhou um campeonato brasileiro para o Santos dando uma série de “pedaladas” – passar a perna sobre a bola sem a tocar à medida que se progride – em Rogério, até que o defesa o derrubou na área. Feita em velocidade, como faz Cristiano Ronaldo, a “pedalada” pode ser letal, mas nunca será tão espectacular como a “foca” celebrizada por Kerlon num Cruzeiro-Atl. Mineiro: trata-se de levar a bola em sucessivos toques de cabeça e, no caso de Kerlon, valeu-lhe uma agressão do frustrado Coelho.
Ronaldinho tem uma série de truques e executa-os como ninguém, mas a sua especialidade é mesmo a “vírgula” ou “elástico”: leva a bola colada à parte de fora do pé e, de repente, puxa-a para o outro lado com o peito do pé, de forma que ela se mova como o desenho de uma vírgula mas com tanta rapidez que parece puxada por um elástico. Mais simples de executar é a letra, uma das fixações de Jardel: passa-se o pé que vai chutar a bola por trás da outra perna, surpreendendo o adversário pela trajectória que, tal como na trivela, também é contrária ao esperado.



Dez grandes individualistas
Tim
Elba de Pádua Lima, um interior que no futebol ficou conhecido como Tim, foi o primeiro grande driblador da história do futebol. Jogou o Mundial de 1938 pelo Brasil, quando era estrela do Fluminense e já brilhara na Copa América. Capaz de um excelente corte seco, “El Peon”, como também lhe chamavam, fazia-o bem para os dois lados, o que o tornava mais difícil de parar.

Garrincha
Fazia sempre a mesma finta: parava face ao opositor – o “João” – e, no último momento, fugia para a direita. Toda a gente sabia, mas ninguém parava este ponta, bi-campeão mundial (em 1958 e 1962) pelo Brasil, a quem chamaram o “Anjo das Pertas Tortas”, porque a sua perna esquerda era seis centímetros mais curta que a direita e ambas fugiam para esse lado.

Stanley Matthews
O “Feiticeiro do drible”, como ficou conhecido este extremo direito do Stoke City e do Blackpool, entrou na história por quatro razões: jogou na I Divisão inglesa até aos 50 anos, foi o primeiro Bola de Ouro da história (em 1956, aos 31), o primeiro jogador a ser armado cavaleiro (e o único até hoje a sê-lo quando ainda jogava) e fez do drible uma arma incontornável.

Best
O “quinto Beatle”, como lhe chamaram por causa do seu modo de vida extravagante e pelas semelhanças físicas com os ídolos da pop nos anos 60, foi descoberto pela rede de olheiros do Manchester United em Belfast. Estrela precoce pela capacidade de aceleração e de drible com os dois pés, marcou uma era no futebol inglês, mas entrou em decadência antes dos 30 anos.

Maradona
O último génio individual do futebol, carregou sozinho a Argentina ao título mundial em 1986, onde assinou golos memoráveis, depois de driblar vários adversários. Chamaram-lhe “Pibe de Oro”, mas também ele se deixou seduzir pelo lado mais negro da idolatria, embrenhando-se na droga e na criminalidade. Ainda se acha vítima de uma conspiração da FIFA para o derrubar.

Vasques
O seu futebol artístico levou a que este membro dos “Cinco Violinos” ficasse conhecido como o “Malhoa”, tal era a complexidade das jogadas que pintava nos pelados. Sobrinho de outro jogador do Sporting – Soeiro – representou o clube de Alvalade durante 13 anos, ganhando oito campeonatos nacionais. Muitos devido ao seu drible curto e à rapidez com que saía de cada jogada.

Chalana
Nascido no Barreiro, como Vasques, foi no Benfica que se destacou. Chamavam-lhe “Pequeno Genial”, devido à baixa estatura e à capacidade de drible do pé esquerdo, armas que lhe valeram seis títulos nacionais em doze anos na Luz. Pelo meio, um grande Euro-84 valeu-lhe a transferência para o Bordéus graças à qual o Benfica fechou o terceiro anel do seu velho estádio.

Futre
Descoberto pelo Sporting no Montijo, cedo rumou ao FC Porto, pelo qual foi campeão da Europa, em 1987. Foi o primeiro cidadão do Mundo saído do futebol português: o drible inventivo, a velocidade e a capacidade do pé esquerdo, inspirados em Chalana, permitiram-lhe brilhar intensamente no At. Madrid e passar também por França, Itália, Inglaterra e Japão.

Dominguez
Júnior do Benfica, foi dispensado por causa da baixa estatura, e teve de brilhar nas divisões secundárias de Inglaterra, no Birmingham, antes de regressar pela porta grande, assinando pelo Sporting. Grande driblador, chegou à selecção nacional e regressou a Inglaterra, ao Tottenham, onde foi infeliz. Antes de se retirar passou ainda pela Alemanha, pelo Qatar e pelo Brasil.

Cristiano Ronaldo
Madeirense, cresceu no Sporting, onde entrou com 11 anos. Chegou à equipa principal um ano depois de Quaresma, sendo menos artístico mas mais veloz e competitivo. Por isso mesmo agarrou com ambas as mãos a oportunidade de se transferir para o Manchester United, onde a sua capacidade de conjugar velocidade com drible lhe valeu o estatuto de primeira figura.
Puiblicado em Diário de Notícias, 25/01/2008

Antevisão da 17ª jornada

SPORTING-FC PORTO
Domingo, 20h00, Sport TV 1
Leão 13 meses invicto em casa
Apesar da crise que a equipa atravessa, o Sporting só perdeu uma vez em Alvalade no último ano: foi contra o Manchester United, em jogo da Liga dos Campeões, em Setembro. Para encontrar outro desaire caseiro é preciso recuar até Dezembro de 2006, quando ali ganharam, consecutivamente, Benfica e Spartak. Os leões vêm de quatro vitórias seguidas em casa (3-0 ao Dínamo Kiev, 2-1 ao P. Ferreira, 4-0 ao Lagoa e 3-0 ao Beira Mar) mas, para a Liga, esta época, só Belenenses e V. Guimarães por ali passaram sem marcar golos.

Árbitro partilha momentos negros
Carlos Xistra esteve nos momentos mais negros das duas equipas esta época: dirigiu o FC Porto em Fátima, na eliminação da Taça da Liga, após empate a zero, e marcou presença nos 0-3 com que o Sporting baqueou em Braga. Apesar de tudo, têm sido mais felizes com ele os portistas, que não perdem para a Liga com Xistra em campo desde 23 de Fevereiro de 2002, quando o Beira Mar surpreendeu a equipa de Mourinho no Dragão por 3-2. Antes de Braga, o Sporting já perdera por 3-0 com ele em Paços de Ferreira

Dois treinadores buscam estreia
Jesualdo Ferreira não ganhou uma única de sete partidas em Alvalade, mas Paulo Bento também nunca venceu um clássico em casa. O melhor que Jesualdo conseguiu no terreno dos leões foi empatar quatro vezes (1-1 pelo Alverca, pelo Benfica e pelo FC Porto e 0-0 pelo Sp. Braga), tendo depois perdido três (0-1 pelo E. Amadora e pelo Sp. Braga e 0-2 pelos minhotos). Paulo Bento já ganhou clássicos na Luz (3-1), no Dragão (1-0) e em campo neutro (1-0), mas em casa perdeu (0-1) e empatou (1-1) com o FC Porto e perdeu com o Benfica (0-2).

Há nove jogos em alternância
Desde 2004/05 que o FC Porto não ganha duas vezes seguidas em Lisboa, alternando sempre uma vitória com um resultado menos positivo. Nessa altura, depois de já ter ganho na Luz por 1-0, repetiu o resultado no Restelo com o Belenenses. Daí para cá a alternância tem sido total: derrota em Alvalade (0-2), vitória no Restelo (2-0), derrota na Luz (0-1), vitória em Alvalade (1-0), empate em Alvalade (1-1), vitória no Restelo (1-0), empate na Luz (1-1) e vitória na Luz (1-0). Pela lógica, domingo não ganha.
V. GUIMARÃES-BENFICA
Sábado, 21h15, TVI

Vice-liderança em jogo

O Vitória tem um aliciante extra na recepção ao Benfica: se ganhar, volta pela primeira vez ao segundo lugar isolado desde Novembro de 2002. Mas nem Camacho alguma vez perdeu em Guimarães (um empate e uma vitória, marcada pela morte de Fehér, faz hoje quatro anos), nem Cajuda bateu o espanhol (tem dois empates e duas derrotas). Contudo, o técnico de Olhão não perde com o Benfica desde Março de 2004 (no Marítimo), o Vitória leva mais de um ano sem desaires em casa e o Benfica não ganha fora desde Novembro.

SP. BRAGA-BELENENSES
Hoje, 20h30, Sport TV 1

José Pedro centenário
José Pedro pode cumprir a 100ª partida na Liga, num cenário tradicionalmente complicado para os “azuis”: não ganham em Braga desde Dezembro de 2001, quando se impuseram por 3-2, de virada. Mas o momento do Sp. Braga não é fenomenal: a equipa não ganha há três jogos da Liga (Boavista, Académica e FC Porto) e passa por uma crise semelhante à de Janeiro de 2007, quando quatro jogos sem ganhar pesaram na saída de Rogério Gonçalves. Carlos Fernandes, o ex-belenense que decidiu o jogo do ano passado, está lesionado.

NACIONAL-V. SETÚBAL
Domingo, 18h00, Sport TV 1

Contra a orfandade

Duas equipas com sentimentos de orfandade: o Nacional, que tem a melhor defesa da Liga depois de FC Porto e Benfica, ficou sem o guarda-redes Diego Benaglio, que vinha com 46 jogos seguidos na baliza alvinegra; o V. Setúbal, que possui o melhor ataque a seguir aos grandes, perdeu o atacante Matheus, autor de dois golos nos últimos dois jogos (Taça de Portugal e Taça da Liga). Carvalhal defronta a equipa que lhe provocou a última chicotada psicológica, após um empate caseiro pelo Beira Mar, em Dezembro de 2006.

LEIXÕES-P. FERREIRA
Domingo, 16h00

Haverá duas sem três?

O Paços vive um momento fulgurante, muito graças ao duplo-bis de Wesley (feito inédito na carreira do jogador e na história do clube na Liga) e busca uma terceira vitória seguida que não consegue desde Dezembro de 2001, quando bateu de enfiada Marítimo, Varzim, Benfica e V. Setúbal. O confronto com o Leixões será uma estreia na Liga portuguesa mas tem passado recente no escalão secundário: o Paços ganhou os dois jogos de 2004/05, mas Jorge Gonçalves aproveitou um deles para fazer o primeiro golo pelo Leixões.

U. LEIRIA-ACADÉMICA
Domingo, 16h00

Regresso de Domingos

Jogo atípico, onde costuma ganhar o visitante: a excepção nos últimos quatro anos foi a vitória leiriense na época passada. No banco da União estava então Domingos, que foi depois despedido em Fevereiro e agora regressa após ter dado a volta à história. A União ganhou apenas três dos 29 jogos entretanto feitos, o último dos quais em Maio, seguindo por isso com uma inédita série de 18 jogos seguidos sem vitória na Liga. Por sua vez, a Académica não perde há quatro jogos, algo que não conseguia desde Maio de 2005.

NAVAL-E. AMADORA
Domingo, 16h00

Seis anos em branco

A ampla vitória sobre o Boavista, na Taça, pode acordar a Naval, que na Liga vai com quatro derrotas seguidas. O Estrela, que não faz golos fora da Reboleira desde inícios de Novembro (3-3 em Coimbra), também ficou em branco nas últimas quatro deslocações à Figueira: o último golo estrelista foi ali apontado por Cristóvão, em Setembro de 2001, num empate a uma bola na II Liga que assinalou a estreia com a camisola verde e branca de Carlitos, o jogador há mais tempo no plantel da Naval e que esta época ainda não jogou.

MARÍTIMO-BOAVISTA
Segunda-feira, 19h45, Sport TV 1

Estreias contrárias
O regresso do Boavista ao estádio onde ganhou pela última vez fora, em Maio passado (2-1) proporciona a oportunidade para Jorge Ribeiro (Boavista) e Fábio Felício (Marítimo) reencontrarem o opositor da estreia. Mas enquanto, desde 2000, em cinco confrontos (por Benfica, Varzim, Gil Vicente e Aves), Ribeiro nunca perdeu com o Marítimo, só pelos madeirenses é que, em Setembro, Felício ganhou pela primeira vez aos azadrezados, depois de seis partidas mal sucedidas por Farense, Académica e U. Leiria.
Publicado em O Jogo, 25/01/2008

Stojkovic - Apto para o clássico

A surpreendente chamada de Rui Patrício à baliza do Sporting no jogo da Taça da Liga frente ao Beira Mar pode prenunciar uma nova alteração na hierarquia das redes leoninas em vésperas de um clássico. O jovem português estava a ser titular na Liga, relegando o sérvio Stojkovic para um papel secundário, na Taça de Portugal e na Taça da Liga, mas a aproximação do jogo com o FC Porto pode ter levado Paulo Bento a pensar no caso e a devolver a responsabilidade ao estrangeiro. É que Stojkovic parece fadado para clássicos: já fez cinco e neles sofreu apenas um golo, marcado por Raul Meireles na partida da primeira volta.
Depois de dois anos emprestado ao Zemun, Stojkovic estreou-se com a camisola do poderoso Estrela Vermelha na Liga da Sérvia precisamente em vésperas de um clássico contra o Partizan: nele, em Outubro de 2005, conseguiu a sua primeira baliza virgem, graças a uma vitória por 2-0. Ainda nessa época, esteve no 0-0 do jogo de retribuição, em Abril de 2006. E já pelo Sporting teve um clássico a assinalar-lhe a estreia: vitória por 1-0 na Supertaça. Desde então jogou mais duas partidas de emoções fortes, perdendo por 1-0 com o FC Porto no Dragão e empatando a zero com o Benfica na Luz.
De todos os guarda-redes leoninos que jogaram clássicos nos últimos dez anos, Stojkovic é aquele que tem menor média de golos sofridos por jogo: apenas 0,3, valores mais baixos que os de De Wilde (0,5) e Schmeichel (0,8). São curiosamente três estrangeiros quem ocupa as melhores posições, muito à frente de Ricardo (1,2), Nelson (1,6) e Tiago (2,1). E Stojkovic destaca-se também pelo total de redes invioladas que conseguiu manter em clássicos: mesmo em apenas três jogos já soma duas, tantas quantas fez Ricardo em 16 partidas. Neste particular, apenas Schmeichel, com cinco, o supera.


GUARDA-REDES EM CLÁSSICOS DA ÚLTIMA DÉCADA
Guarda-redes J V E D GS Méd BV
Ricardo 16 5 5 6 20 1,2 2
Schmeichel 12 4 5 3 10 0,8 5
Nelson 11 3 3 5 18 1,6 1
Tiago 8 1 3 4 17 2,1 1
Stojkovic 3 1 1 1 1 0,3 2
De Wilde 2 0 2 0 1 0,5 1
Legenda: J- Jogos; V – Vitórias; E – Empates; D – Derrotas; GS – Golos Sofridos: Méd. – Média; BV – Balizas virgens

OS CLÁSSICOS DE STOJKOVIC
Época Prova Resultado
2005/06 Liga Sérvia E. Vernelha 2, Partizan 0
2005/06 Liga Sérvia Partizan 0, E. Vermelha 0
2007/08 Supertaça Sporting 1, FC Porto 0
2007/08 Liga Portugal FC Porto 1, Sporting 0
2007/08 Liga Portugal Benfica 0, Sporting 0
Publicado em O Jogo, 25/01/2008

Helton - A besta negra de Liedson

Desde que marcou à Naval, em inícios de Novembro, Liedson já fez golos na Liga dos Campeões, na Taça de Portugal e na Taça da Liga, mas nada disso impede que esteja a atravessar a maior seca goleadora da sua carreira no campeonato português. São já 659 minutos sem marcar na Liga e, para evitar o estabelecimento de um novo máximo pessoal – esteve 730 minutos sem golos na transição entre o Corinthians e o Sporting, em 2003 – sabe que precisa de enfrentar Helton, a sua “besta negra”, um guarda-redes ao qual nunca fez um único golo.
Nas oito vezes que os dois se defrontaram – sempre em Portugal, porque a chegada de Liedson ao Flamengo, em Julho de 2002, coincidiu com a passagem de Helton do Vasco para a U. Leiria – o “Levezinho” jogou sempre os 90 minutos mas nunca marcou um único golo. E Helton aproveitou esse facto para ter um registo positivo neste confronto: ganhou três jogos e perdeu apenas dois. Curiosamente, nas duas vezes que defrontou o Sporting sem Liedson (na estreia, em 2002/03, e na época passada, no Dragão), o guardião brasileiro nunca venceu.
A dificuldade de Liedson para marcar golos a Helton pode ser justificada com o “modus operandi” do goleador leonino e com o facto de ele não se encaixar nas debilidades do guardião portista. Cinco dos últimos dez golos de Liedson na Liga foram obtidos de cabeça, mas apenas um deles (à Académica, já esta época) apareceu no seguimento de um lance de bola parada. Em contrapartida, Helton sofre golos sobretudo em bolas paradas: foi assim que encaixou seis dos últimos dez golos na Liga.


HELTON CONTRA LIEDSON
Época Jogo Golos sofridos
2003/04 Sporting 2, U. Leiria 0 Lourenço e P. Barbosa (gp)
2003/04 U. Leiria 1, Sporting 0 -
2004/05 Sporting 2, U. Leiria 2 Rogério e Beto
2004/05 U. Leiria 0, Sporting 0 -
2005/06 Sporting 0, FC Porto 1 -
2006/07 Sporting 1, FC Porto 1 Yannick
2007/08 Sporting 1, FC Porto 0 Izmailov
2007/08 FC Porto 1, Sporting 0 -

ÚLTIMOS 10 GOLOS A HELTON NA LIGA
Autor Como com o quê
Lipatin Remate de fora área pé direito
Mateus penalti pé direito
Maurício Livre indirecto de meio-campo cabeça
Zé Pedro Isolado na cara do g. redes pé esquerdo
João Pinto Passe rasteiro da esquerda pé direito
Moreira Livre indirecto da direita pé direito
Antunes Livre directo na meia direita pé esquerdo
Ricardo Silva Canto da esquerda devolvido cabeça
Zé Manuel Isolado na cara do g. redes pé direito
Nivaldo Canto da direita cabeça

ÚLTIMOS 10 GOLOS DE LIEDSON NA LIGA
Adversário Como com o quê
Naval Remate de fora área pé esquerdo
E. Amadora Isolado na cara do g. redes pé direito
Belenenses Cruzamento da esquerda cabeça
Académica Livre indirecto da direita cabeça
Belenenses Isolado na cara do g. redes pé direito
Académica Cruzamento da esquerda pé direito
V. Setúbal Cruzamento da direita cabeça
V. Setúbal Cruzamento da direita cabeça
Benfica Cruzamento da direita cabeça
Marítimo Isolado na cara do g. redes pé direito

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

FC Porto resolveu bem o caso Quaresma?

O incómodo de Ricardo Quaresma após os assobios de que foi alvo no jogo com o Desp. Aves era evidente. A sua vontade de sair ficou sub-entendida quando disse que “a época está quase a acabar e depois já não terão que assobiar mais”. À possibilidade de nascimento de um caso, o FC Porto respondeu prontamente com a renovação do contrato com o jogador até 2011 e o anúncio do resgate do remanescente do passe que ainda estava nas mão do First Portuguese. Morre aqui o caso-Quaresma ou esta foi apenas uma operação que o submerge e o deixa à espera de nova ocasião para reaparecer?

TESE
Veio transformar
assobios em aplausos
Os constantes assobios dos adeptos do FC Porto a Quaresma afectavam um jogador que é dos mais valiosos da equipa, dos que mais contribuiu para os últimos dois títulos – e para a caminhada vitoriosa desta época – e dos que mais euros pode valer numa futura operação de mercado, a fazer com um dos muitos grandes clubes europeus que nele estão interessados. Ao criarem uma situação incómoda a Quaresma, os adeptos estavam a prejudicar o clube em vários aspectos, do desportivo ao financeiro, pelo que este respondeu como devia: colocou-se ao lado do jogador.
É certo que a renovação já estava apalavrada há algum tempo e que a extinção da parceria com o First Portuguese era apenas uma questão de oportunidade – o Sporting também já o fizera, trocando percentagem no passe de jogadores por acções da SAD. Mas a escolha do momento para o anúncio é definidora e serve para dar um sinal de que na Torre das Antas não se toleram acções que possam diminuir o rendimento dos jogadores no campo e dos seus passes no defeso. O que o FC Porto quis dizer com o acto foi que não vale a pena continuarem a assobiar Quaresma, porque ele tem o respaldo da administração nas suas fintas. O preço a pagar pelo jogador foram declarações de amor que, mesmo que possam ser ultrapassadas por uma oferta melhor, levarão a que ele seja ovacionado quando voltar a ser anunciado pelo “speaker” do Dragão.
Aliás, com esta renovação, o FC Porto ainda aumentou a potencial maquia a receber quando Quaresma quiser mesmo sair, pois já se sabe que os valores das transferências crescem com o tempo que falta cumprir num contrato: com a liberdade mais distante – a três anos e meio de distância – quem quiser Quaresma vai mesmo precisar de se chegar à frente com uma mala cheia de notas.

ANTÍTESE
Operação soluciona
apenas mediatização

Quaresma já jogou no Barcelona e ninguém lhe leva a mal o desejo de voltar a uma das grandes Ligas europeias, seja em Espanha, em Itália ou em Inglaterra. Em Portugal, não tem rival na arte e na influência, mas continua a ser incompreendido pelos adeptos do seu próprio clube e, ao mesmo tempo, a ver fugir por somas alucinantes jogadores que não são tão fortes ou inspiram tantos títulos como ele. A reacção no final do jogo com o Desp. Avez teve a ver com o acumular de tensões relacionadas com estas duas situações: Quaresma sentir-se-ia simultaneamente mal-amado e mal-pago. E não é uma renovação de contrato que vai resolver-lhe o problema.
Embora com este caso tenha criado um perigoso precedente – a partir de agora, jogador que queira um novo contrato só tem que insinuar frente às câmaras de televisão que pode estar de saída – a renovação foi uma jogada de mestre, isso sim, mas do ponto de vista mediático. Com aquilo que ela significa, os adeptos passarão a sentir que, ao assobiarem o jogador, estão ao mesmo tempo a assobiar a administração e o presidente que decidiu renovar-lhe o contrato quando ele era apupado e, por meias palavras, falava em saída. Com este acto, resolve-se, à partida, a contestação das bancadas. Mas o que levou Quaresma a desabafar não foi só isso e, mesmo com ligação até 2011, o FC Porto corre o risco de, a cada vez que se fale na transferência para um clube dos grandes mercados, o jogador voltar a sentir mal-estar e a pensar na saída ou nas férias.
Por isso, a não ser que uma das contrapartidas apresentadas ao jogador para renovar tenha sido o compromisso de o deixar sair a partir de determinados valores, ele continuará a viver amargurado com a prisão na pouco influente Liga portuguesa.

SÍNTESE
O FC Porto resolveu o caso-Quaresma como pôde. A administração fez o que tinha a fazer: apoiou o jogador, criou condições para que voltasse a sentir-se bem no relvado e valorizou-o na perspectiva de uma futura saída. Mas acreditar que a renovação de contrato resolveu de vez o problema de um jogador que, mesmo sendo bi-campeão é ainda muitas vezes visto como exterior à cultura do clube e que também ele sonha voltar pisar os palcos dos maiores campeonatos da Europa, é ser ingénuo ou mais papista do que o Papa.
Publicado em O Jogo, 24/01/2008

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Regresso do manipulador reacende chama de Newcastle

O que dizer de um clube que anda afundado na segunda metade da tabela da Premier League e que, para regressar aos dias de glória, contrata um treinador que estava parado há três anos e meio? O que dizer de um treinador que, em três anos e meio de desemprego, diz ter visto apenas um jogo de futebol e que, no dia em que regressa ao activo, fala abertamente sobre o homem que acredita poder suceder-lhe? E, no entanto, tudo faz sentido quando se diz que falamos do Newcastle e de Kevin Keegan: do clube que não ganha nada há quase 40 anos mas cujos adeptos mantém intacta a mania de grandeza e do mais populista dos treinadores ingleses.
À chegada a St. James’s Park, a meio da semana, Keegan teve um impacto imediato: limitou-se a sentar-se numa das cadeiras da frente no desempate da Taça de Inglaterra, contra o Stoke City e, só pelo acto, levou 10 mil adeptos ao estádio. Billy Furious, escritor e adepto do Newcastle, brincou com a situação e, num artigo encomendado pelo “Sunday Times”, comparou o efeito do seu acto de se sentar ao de Rosa Parks, a famosa activista negra norte-americana que fez história por se recusar sentar-se na parte de trás de um autocarro, onde teriam de viajar os da sua raça. Mas, ao contrário de Parks, Keegan nunca diz que não. E ao contrário de Furious, está a falar a sério.
Mike Ashley, dono do clube, pede-lhe um troféu nos próximos três anos e, insensível ao facto de o clube não ganhar rigorosamente nada desde a Taça das Feiras em 1969, Keegan disse que sim. É certo que lhe deram uma bolsa com 65 milhões de euros para gastar já no mercado de Janeiro e que se fala nas aquisições de um lateral (Micah Richards, Wes Brown, Wayne Bridge ou Nick Shorey), de um central (Sol Campbell) e de um médio (Michael Carrick). Mas Keegan já tinha dito o mesmo a Freddy Shepherd, o anterior dono do Newcastle, quando este o contratou, em 1992, para suceder a Osvaldo Ardilles e devolver o clube ao escalão principal. Keegan, que estava fora do futebol, de férias em Espanha, desde a sua despedida como jogador – deixou St. James’s Park de helicópero, ainda equipado, no final do seu último jogo, em 1984 – subiu de divisão e ali conseguiu um terceiro e um segundo lugares, ficando sempre na sombra do Manchester United e saindo em Janeiro de 1997.
Perdedor? Sim. Mas a equipa ficou no coração dos adeptos, que lhe gabavam o estilo e lhe chamavam “The Entertainers”. “Para as pessoas daqui, que trabalharam toda a semana, ir ver o Newcastle é quase como para os do sul ir ao teatro. Querem sobretudo algo que valha a pena ver. Não querem jogos de 1-0”, disse Keegan, ainda um exímio manipulador de corações. Foi por isso, aliás, que acabou com uma zanga de 18 meses com o preferido das bancadas, o ex-goleador Alan Shearer, que actualmente faz comentários para a Sky Sports, e o convidou para integrar a estrutura que está a montar, dede logo o anunciando como seu putativo sucessor.
Publicado em "O Jogo", 22/01/2008

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Ao telefone com o futuro

A quem telefona Lisandro Lopez quando festeja os seus golos? À família que deixou na Argentina? Aos colegas que estão fora de campo? Aos adeptos que o vêem das bancadas? Ao treinador, a agradecer-lhe a confiança? A Alfio Basile, para o convencer a chamá-lo de volta à selecção argentina, onde não joga desde que trocou o Racing pelo FC Porto, em 2005? Sempre que marca – e esta época já o fez quase tantas vezes como nas últimas duas somadas – o melhor goleador da Liga agita uma mão junto à face, com o polegar e o dedo mindinho esticados, repetindo um gesto que a mímica consagrou como sendo o de um telefonema. Mistério.
Foi isso que Lisandro fez duas vezes no desafio com o Sp. Braga. A primeira logo no início da partida, quando se limitou a tocar um cruzamento vindo da direita de forma pouco ortodoxa, desviando a medo a bola de uma saída desastrada de Paulo Santos – como desastrado fora o modo como Miguelito perdeu a bola. A segunda perto do final, após assistência do seu compatriota Farias, num volei exemplar, que já se tornou uma das suas imagens de marca de goleador.
Até há pouco tempo, Lisandro tinha outra forma de celebrar os seus golos: batia na própria cabeça com a palma da mão, fixando o pulso na nuca, o que também era estranho, sobretudo num jogador que não faz do jogo aéreo mas sim da conjugação do domínio de peito e do remate pronto a sua principal arma ofensiva. Mas quando se percebe que a mudança na forma de celebrar se deu em Dezembro, após a vitória do FC Porto na Luz e o alargamento da vantagem para dimensões irrevogáveis, pode adivinhar-se com quem fala o goleador argentino. Lisandro está ao telefone com o futuro, a encomendar as faixas de tri-campeão nacional para as quais tanto tem contribuído. E elas vêm a caminho.


A VIDA EM NÚMEROS
8 foram os jogos em que Lisandro Lopez bisou com a camisola do FC Porto, quatro dos quais esta época (Paços de Ferreira, Boavista, Leixões e Sp. Braga). No Racing, tinha bisado três vezes.

0 foram os “hat-tricks” de Lisandro Lopez em toda a sua carreira. Aliás, é preciso recuar até 9 de Maio de 2004 para encontrar um “hat-trick” de um portista: foi McCarthy o autor do último, face ao Paços de Ferreira.

15 golos já marcou Lisandro Lopez esta época, 13 na Liga e dois na Liga dos Campeões. Ao todo, nas duas temporadas anteriores pelo FC Porto, tinha feito 18: oito na primeira época e 10 na segunda.

3 dos golos de Lisandro Lopez esta época foram obtidos nos primeiros cinco minutos de jogo: a Leixões, V. Setúbal e Sp. Braga. Antes, em toda a carreira, só duas vezes o argentino acordara tão cedo: uma pelo FC Porto e outra no Racing.
Publicado em O Jogo, 19/01/2008

Um processo com muitos culpados

Carlos Janela foi o primeiro a cair, por decisão da administração. Cabral Ferreira decidiu afastar-se, encontrando nas limitações de saúde uma desculpa para evitar assumir culpas. Mas o desastre organizativo que foi a utilização de Meyong pelo Belenenses tem muitos culpados, desde os dois citados ao departamento jurídico do clube, com passagem pelo jogador, pelo seu empresário, pelo agente que assumiu as negociações. Aliás, se há coisa difícil de encontrar aqui são inocentes.
O director desportivo do Belenenses foi o único, até agora, a assumir culpas, embora também ele as tente mitigar com uma misteriosa advertência à Liga: “Cuidado! Não vai ser fácil à Liga abrir um processo disciplinar ao clube!”, disse Janela no momento da expiação. Mas em vez de ser lida à luz da mentalidade retorcida do futebol português, que nestes casos encontra sempre expedientes que depois acabam em Mapuatas, Basaúlas ou Mateus, a frase de Janela deve servir para que se perceba que – e nisso o homem tem razão – a culpa não pode ser toda dele. Embora o próprio deva compreender que, mesmo não tendo sido ele a liderar o processo, a culpa seja sobretudo dele. Porque é ele o profissional do clube com esta área de competência, porque foi como secretário-técnico e depois director desportivo e assessor-directo de um agente FIFA – responsável pela elaboração de muitos contratos – que Janela passou os últimos 20 anos da sua vida. Se alguém na estrutura do Belenenses devia averiguar se Meyong podia ser utilizado pelo clube era ele. E não eram precisos dias de pesquisa: bastava uma consulta rápida, de dois minutos, a um dos sítios da Internet especializados em estatística do futebol para ficar em condições de advertir o presidente para a asneira que estava prestes a fazer. E se não o fizesse por suspeitar de pormenores contratuais, deveria pelo menos tê-lo feito para perceber qual tinha sido o rendimento do jogador nos últimos meses.
Porque, embora alegue que foi o presidente Cabral Ferreira quem assumiu as negociações em nome próprio, em nenhum momento Janela alega desconhecimento de que elas decorriam. E, ainda na semana passada, em declarações ao DN, o próprio Janela definia assim as suas funções: “é importante haver alguém que faça um diagnóstico real da equipa. Sem essa pessoa, os problemas ou não são detectados a tempo ou chegam à administração com fundamentos deturpados”. Foi o caso. O que não impede que Cabral Ferreira também devesse ter ido mais longe na busca de informação. Liderar é, em muitos casos, envolver. E o mínimo que pode dizer-se da acção do presidente do Belenenses é que não envolveu a estrutura numa acção de capital importância para a equipa como o reforço da equipa de futebol. Além de que, hoje em dia, ser presidente de uma SAD já implica a necessidade de se ter conhecimentos mais do que básicos dos regulamentos que regem o futebol. E, no momento de abandonar, Cabral Ferreira alegou impedimento de saúde para deixar o clube mas vai manter-se precisamente na SAD.
De qualquer modo, a lista de culpados não deve ficar por aqui. São culpados os membros do departamento jurídico do Belenenses que trataram do caso. É culpado o empresário que intermediou o negócio, o colombiano Efrain Pachón, por má-fé ou impreparação para a profissão (a licença de agente-FIFA está dependente do conhecimento dos regulamentos de transferências, onde se estipula claramente que nenhum jogador pode representar três equipas na mesma época). É culpado o empresário com contrato registado com o jogador, Paulo Teixeira, por negligência: diz Meyong que não lhe fala há mais de um ano. É culpado o jogador, porque a um futebolista tão bem remunerado deviam exigir-se conhecimentos pelo menos rudimentares das leis da profissão. No meio de tudo, só não têm culpa a FPF e a Naval. Mas, em bom rigor, ambos podiam ter-se poupado ao papel que fizeram. Gilberto Madaíl não tinha que afirmar que para informar os clubes dos clubes onde cada jogador actuou seria preciso uma mega-operação de pesquisa: os regulamentos da FIFA obrigam cada federação a emitir e actualizar um documento chamado “passaporte do jogador”, onde devem figurar todosos registos desde que o futebolista fez 12 anos. E Aprígio Santos, se sabia que o adversário ia incorrer numa irregularidade, deveria ter alertado alguém em vez de ficar à espera de ganhar o jogo na secretaria. Isso não é de desportista.
Publicado em Diário de Notícias, 19/01/2008

Secou a fonte dos golos levezinhos

No momento em que Tonel fazia, de cabeça, o golo que colocava o Sporting em vantagem sobre a Académica, em Coimbra, Liedson estabelecia um novo recorde negativo. Ao mesmo tempo que ia buscar a bola ao fundo da baliza de Pedro Roma e a pontapeava para longe, antes de se juntar discretamente à celebração colectiva, montada junto à bandeirola de canto, o melhor goleador leonino dos últimos anos superava o seu anterior máximo de tempo de jogo sem marcar golos na Liga portuguesa, que agora se fixa em 659 minutos. É um valor inferior ao de qualquer dos melhores goleadores da prova (ver textos nestas páginas), mas mesmo assim disso se tem ressentido o Sporting, que no período negro do “Levezinho” viu fugir de forma irremediável o FC Porto na luta pelo título e até já se deixou ultrapassar pelo V. Guimarães na luta pela terceira posição, que dá acesso à Liga dos Campeões.
Paulo Bento, treinador do Sporting, sabe que para devolver a equipa ao bom caminho precisa de resolver o enigma Liedson. Por que razão deixou Liedson de decidir jogos? A explicação mais vezes apontada por antigos goleadores de ofício para estes períodos de seca tem a ver com uma quebra de confiança, com o modo como o jogador se sente. “O fundamental é a confiança e a auto-estima do goleador, no sentido de nunca desanimar a acreditar sempre que até ao fim de um jogo pode aparecer um lance de golo”, avança o bi-Bota de Ouro Fernando Gomes, seis vezes melhor marcador do campeonato nacional, sempre com a camisola do FC Porto, mas que no final da carreira ainda representou o Sporting. O caso de Liedson pode, de facto, começar por ser uma questão de confiança, mas convém não afastar à partida outros factores, desde o pessoal ao táctico. Domingos Paciência, que como treinador da Académica, também contribuiu para aumentar a “seca” do goleador sportinguista, sabe bem o que Liedson está a passar, sobretudo porque foi o último grande atacante “Levezinho” na nossa Liga.
“Antes do jogo disse aos meus jogadores que perante um jogador como o Liedson, que tem grande mobilidade, o fundamental é não abandonar o espaço, não deixar a zona frente à baliza liberta para movimentos de ruptura”, revela o técnico da Académica, que no tempo em que, com a camisola do FC Porto, se sagrou melhor marcador do campeonato, pesava exactamente o mesmo que Liedson (63 quilos), medindo menos um centímetro (1,74m face aos 1,75m do atacante leonino). Ora a questão é que a presença de Purovic, um ponta-de-lança mais fixo, a fazer dupla de ataque com Liedson, vem ajudar os defesas adversários a centrarem-se mais na zona frontal, impedindo-os por isso de abandonar esse espaço. “É melhor para nós, porque com um jogador mais fixo há uma referência de marcação. As movimentações típicas do Liedson são a fuga para as alas, sobretudo a esquerda, quando o ataque organizado do Sporting não sai à primeira, ajudando aí a esticar o jogo e surgindo depois de surpresa no meio, no espaço que libertou”, considera Domingos. “Jogar contra Liedson e Derlei, por exemplo, é completamente diferente”, sintetiza o treinador da Académica, que pegou na equipa precisamente depois de esta ter sido trucidada (4-1) por essa dupla atacante, no jogo da primeira volta, em Alvalade.
Fernando Gomes era um ponta-de-lança diferente, mais clássico e habituado a jogar em 4x3x3, sozinho na área, com dois extremos a ladeá-lo, mas também crê que a adequação ao sistema táctico tem influência nas secas que os goleadores passam. Não acredita, contudo, que esse aspecto seja fundamental. “É verdade que marquei mais golos a jogar como único ponta-de-lança, mas também fui melhor marcador a jogar em dupla com o Duda ou depois com o Walsh”, sustenta. “Acredito que os jogadores podem ter o seu espaço em campo e que se alguém ocupar esse espaço possam ressentir-se, mas além das questões físicas, o fundamental é o goleador sentir que todos estão com ele”, complementa Fernando Gomes, que admite também alguma influência de factores extra-futebol. “Os problemas pessoais também podem afectar o rendimento: tudo o que afecta o homem afecta o jogador”, diz, referindo-se ao castigo recentemente imposto a Liedson, na sequência de este se ter recusado a marcar um penalti num treino. “Parece-me que isso o afectou bastante. Eu lembro-me que quando não estava bem com o treinador, não funcionava tão bem. Porque o avançado tem que sentir que tudo rema para o mesmo lado, que é para ele marcar”, completa Fernando Gomes.É que se é normal que qualquer goleador passe por más fases, ao número 31 leonino isso raramente acontecia. Sem festejar um golo pessoal na Liga desde que, com um invulgar remate de fora da área, ajudou a resolver o jogo do Sporting com a Naval, em Alvalade, a 4 de Novembro do ano passado, Liedson marcou desde então na Champions, à Roma e ao Dynamo Kiev, mas precisa de recuar ao período da sua saída do Corinthians para encontrar período mais negativo em campeonatos nacionais: nessa altura, mediaram 730 minutos entre o seu último golo pelo “Timão”, marcado ao Fluminense a 29 de Junho de 2003, e o primeiro que fez pelo Sporting, a 4 de Outubro, ao Marítimo. Em Portugal, a sua mais longa seca era de 649 minutos, entre o golo com que fechou a vitória leonina sobre o Belenenses, a 24 de Janeiro de 2004, e aquele com que fechou outro sucesso, face ao Alverca, a 16 de Março do mesmo ano. A visita do Lagoa, hoje, em jogo da Taça de Portugal, não interromperá a seca em jogos de campeonato, mas pode pelo menos ajudar a anular algumas das suas explicações. Assim Liedson jogue e encontre o caminho das redes, de forma a restabelecer a confiança.
MAUS MOMENTOS DOS GOLEADORES
Lisandro Lopez
Racing Avellaneda e FC Porto
819 minutos

A época em que foi o melhor marcador do campeonato argentino foi também aquela em que Liasndro Lopez experimentou o maior período de seca goleadora. A 18 de Setembro de 2004 fez o único golo do Racing na derrota (1-2) frente ao Gimnasio de La Plata, só voltando depois a festejar a 13 de Novembro, quando bisou na vitória por 2-0 no terreno do Almagro. No FC Porto, apesar de ter passado as duas primeiras épocas a jogar numa ala, o pior que regista são 682 minutos em branco (de 6-11-06 a 16-2-07).

Linz
Áustria Viena, Admira Mödling, Nice, Sturm Graz, Boavista e Sp. Braga
1074 minutos
O austríaco do Sp. Braga tem dois períodos negros na sua vida de goleador. Entre Agosto de 2002 e o mesmo mês de 2003 esteve a oito dias de completar um ano sem marcar, embora a condição de pouco utilizado no Áustria lhe tenha limitado a série a 637 minutos. A maior seca (1074’) viveu-a entre 20 de Maio de 2004 e 19 de Março de 2005, muito graças ao meio ano em branco no Nice, entre as passagens pelo Admira e pelo Sturm Graz. Em Portugal, ainda não passou dos 611’, pelo Boavista, de 18-12-2006 a 31-3-07.

Edinho
Sp. Braga, P- Ferreira, Gil Vicente e V. Setúbal
970 minutos

Edinho está a viver uma época de ouro, mas só quando passou a começar no banco é que quebrou a mais longa seca goleadora da sua carreira. Depois de, a 7 de Abril de 2007, ter marcado ao Vizela o primeiro golo de uma vitória (2-1) do Gil Vicente, na II Liga, Edinho encetou um longo período de desinspiração, que se alargou às primeiras três rondas desta época, já em Setúbal. E só a 14 de Setembro, quando perdeu a titularidade na equipa de Carvalhal, é que voltou a marcar, no triunfo (3-1) sobre o Sp. Braga. 970 minutos depois.

Nuno Gomes
Boavista, Benfica e Fiorentina
1085 minutos

A maior seca goleadora de Nuno Gomes ocorreu na última época de xadrez antes de se mudar para o Benfica. Depois de, a 18 de Janeiro de 1997, marcar, aos 26’, um golo que recolocava o Boavista comandado pelo interino Rui Casaca em vantagem sobre o Estrela da Amadora (2-1), Nuno Gomes zangou-se com as balizas até que, a 27 de Abril, já com Mário Reis na liderança do onze, fez um “hat-trick” na goleada (7-0) ao Gil Vicente. No Benfica, Nuno Gomes nunca esteve mais de 827 minutos sem marcar.

Makukula
Salamanca, Leganés, Nantes, Valladolid, Sevilha, Nastic e Marítimo
964 minutos
Makukula já esteve mais de um ano sem fazer golos, de Fevereiro de 2005 a Outubro de 2006, mas com uma grave lesão pelo meio, pelo que a maior seca (964 minutos) remonta à passagem por França. Que até começou bem, pois marcou logo na segunda partida, ajudando a mitigar a derrota do Nantes (1-2) no Mónaco. Só que esse foi o primeiro e o último golo de Makukula no Nantes. Após 11 de Setembro de 2002, só voltou a celebrar a 27 de Setembro de 2003, bisando na derrota do Valladolid em Vigo, contra o Celta (2-3).

João Paulo
Aves, Feirense, V. Setúbal, Boavista, Boavista, Varzim, Beira Mar, Estoril, Tenerife, P. Ferreira e U. Leiria
2140 minutos

Uma das jovens promessas portuguesas para o ataque, João Paulo conjugou presenças nas selecções jovens com um período de difícil afirmação na Liga. Após empréstimos a Aves, Feirense e V. Setúbal, estreou-se na Liga pelo Boavista, mas só conseguiu o primeiro golo a 16 de Janeiro de 2004, pelo Beira Mar, depois de ter passado pelo meio uma época no Varzim. Ao todo, foram mais de três anos e 2140 minutos sem marcar, desde o último golo, conseguido pelo V. Setúbal, ao Marco, a 12 de Novembro de 2000, na II Liga.
Publicado em Diário de Notícias, 19/1/2008

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

É justo que Meyong não possa jogar pelo Belenenses?

Está arrumada a questão dos regulamentos e a inevitável perda de seis pontos por parte do Belenenses, devido à utilização irregular de Meyong. Dentro do clube, também já se fez justiça, com o despedimento de Carlos Janela, considerado único responsável pelo imbróglio, que nasceu da aliança entre o desconhecimento do percurso do jogador nesta temporada e de um intrigante esquecimento daquilo que está definido nos regulamentos. Mas, e o jogador? Deve ficar sem jogar até final da temporada? Isso é justo para ele e para quem lhe paga os salários?

TESE
Há que defender
integridade da prova

Uma das críticas que mais se ouve à modernidade do futebol é a sua transformação num negócio, que inevitavelmente conduz à perda de identidade das equipas e dos próprios campeonatos. Tanto a FIFA como a UEFA, pela voz dos seus presidentes, Sepp Blatter e Michel Platini, criticam o facto de em muitos campeonatos haver cada vez mais atletas estrangeiros, o que deita por terra quaisquer estilos que estes pudessem ter ou até a própria identificação dos adeptos com os clubes. Ora uma das formas de defender esta integridade das provas e das equipas é limitar a mudança indiscriminada de jogadores.
Se há dois períodos de transferências definidos pela regulamentação – entre o final de uma época e o início da seguinte e, depois, uma janela de quatro semanas a meio da época, que costuma apontar para Janeiro – não há razões para que um futebolista queira mudar de clube mais de duas vezes num ano. Daí que seja perfeitamente justo que se introduza na lei a limitação à sua utilização na mesma época desportiva por dois clubes. Pode parecer ridículo que depois o mesmo jogador possa ser inscrito por três equipas na mesma época, mas essa excepção destina-se a proteger jogadores que, tendo mudado de clube já depois do início de uma época, acabem por ter problemas de adaptação no segundo clube: ao poderem inscrever-se desde logo por um terceiro, mesmo que só possam jogar na época seguinte, é-lhes salvaguardado o direito ao trabalho.
Meyong começou a época no Levante, tendo depois sido emprestado, sucessivamente, ao Albacete e ao Belenenses. Ao entrar em campo contra a Naval, cometeu uma irregularidade que tanto ele – ou os seus representantes – como os responsáveis do clube deviam conhecer. Resta-lhes cumprir a pena.


ANTÍTESE
Culpado apenas
por desconhecimento
O caso de Meyong é claro. Não houve intenção de driblar a lei ou abuso de movimentação de mercado para facturar milhões. O jogador desconhecia os regulamentos, será culpado apenas de não se ter feito acompanhar do seu empresário nas negociações com o Belenenses. E se jogou por três clubes foi apenas por causa da indecisão do clube detentor do passe, o Levante, que começou por mantê-lo no plantel até finais de Agosto e depois o dispensou.
Em nenhuma parte dos seus regulamentos a FIFA obriga um jogador a fazer-se acompanhar de empresário quando negoceia um contrato com um clube – exige apenas que, se for esse o caso, isso seja indicado. Neste caso, o desconhecimento da lei é evidente e nasce precisamente daí a mudança para o Belenenses: Meyong queria apenas voltar a ser feliz num clube onde já se sentiu integrado e de que é mesmo uma das figuras do passado recente. Não se colocava também, por isso, a questão da perda de identidade: os adeptos do Belenenses continuam a ver no camaronês um dos deles. E também não é de todo a componente-negócio a impor a sua lei, pois a mudança para o Belenenses até foi feita a custo-zero.
Neste caso, alguém – fosse a Federação Espanhola, que enviou o certificado internacional para Portugal, fosse a Federação Portuguesa, que tinha de enviar ao clube o “passaporte do jogador”, com todos os seus registos tornado obrigatório pela regulamentação internacional – devia ter informado Meyong de que não poderia jogar pelo Belenenses. E se ficar provado que ninguém lhe disse, o jogador deveria pelo menos ser autorizado a regressar ao Levante ou ao Albacete, os clubes pelos quais já jogou esta época. Porque aí, sim, pode estar em causa o direito ao trabalho.


SÍNTESE
Meyong é culpado por desconhecimento, o Belenenses por incompetência. De um lado e de outro, não existe intenção de cometer a irregularidade, mas é evidente que as leis não podem aplicar-se apenas a quem pretende quebrá-las, pelo que tanto o jogador como o clube serão punidos. De qualquer modo, o caso devia servir para que as Ligas passassem a cumprir melhor a letra da lei. E esta estipula que, idealmente, o mercado de Verão deva encerrar assim que começa a época de competições. Se assim fosse, não haveria caso-Meyong.

Publicado em "O Jogo", 17/01/2008

Como enquadrar Liedson

Não têm passado despercebidas as constantes discussões de Liedson com Purovic. No final de cada lance em que vão ambos ao mesmo poste, para acorrer a um cruzamento, ou em que não se cruzam de forma a que um ceda a bola ao outro, lá ficam a tentar perceber o que correu mal. Pois bem, já é altura de o perceber: Purovic não é o tipo de jogador que mais convém a Liedson. Para poder aproveitar melhor a conjugação de mobilidade com oportunismo e agilidade que o caracterizam, o “Levezinho” precisa de outro avançado tão móvel quanto ele. Aliás, embora alguns até tenham conseguido alguma rentabilidade própria, nenhum dos avançados mais fixos que passaram pelo Sporting conseguiu tirar o melhor de Liedson (ver quadros nestas páginas).
No futebol português há uma tradição recente de “segundos avançados” que precisavam de um jogador fisicamente forte a seu lado ou uns metros à sua frente para poderem brilhar. Era o caso de Nuno Gomes, Sá Pinto ou João Pinto, por exemplo. A questão é que, embora goste de se mexer por toda a frente de ataque, embora não fixe a posição no centro, não seja por isso um avançado posicional, como Jardel, por exemplo, Liedson também não é um “segundo avançado”: é mais um Domingos do que um João Pinto. Para melhor aparecer, Liedson precisa de um companheiro igualmente móvel, que distraia os defesas adversários mas saia da frente na altura exacta em que o brasileiro se prepara para surgir em zona de finalização. A articulação destes movimentos leva tempo, mas foi em nome desta ideia que Paulo Bento estabeleceu uma hierarquia dos companheiros para Liedson no plantel leonino desta época: em primeiro lugar Derlei, em segundo Yannick e só no fim Purovic, que enquanto os quatro estiveram disponíveis passou alguns jogos sem sequer ir ao banco.
O montenegrino até pode ser o mais indicado dos quatro para jogar sozinho na frente, em 4x2x3x1 ou em 4x3x3, porque este é um esquema que pede mais do ataque posicional, que dá mais largura ao jogo da equipa e apela mais aos cruzamentos. Mas em 4x4x2 com o meio-campo em losango, esquema em que se abusa das combinações interiores e tantas vezes se pede aos avançados para caírem numa faixa, o seu futebol chega a parecer ridículo: são bolas de canela, são esforços infrutíferos para acorrer a passes para a faixa lateral e, como se tudo não bastasse, são inúmeros lances em que, por se movimentar na lógica do ponta-de-lança solitário, fica (ele e o seu marcador) a preencher a zona que Liedson quereria vazia para aparecer a concluir. É muito por estar forçado a jogar ao lado de Purovic que Liedson atravessa uma das maiores secas goleadoras que se lhe conhecem no Sporting. Com o montenegrino em campo, o “Levezinho” fez apenas dois golos, ambos em lances com interferência de Vukcevic: o primeiro ao Belenenses, num caso raro em que foram um ao primeiro poste e outro ao segundo, e onde o cruzamento é perfeito; o segundo ao E. Amadora, numa transição rápida após recuperação de bola a meio-campo, que deixou os dois isolados face ao guarda-redes. Isto passou-se a 16 de Setembro. Há quatro meses.Sem as primeiras opções e mesmo sem a possibilidade de ter um avançado no banco, Paulo Bento vacilou entre deixar Liedson só na frente – em quatro anos ainda não fez um jogo inteiro assim – ou chamar para ali Vukcevic. O que acaba por ser quase a mesma coisa: o outro montenegrino movimenta-se bastante, mas não no sentido que convém ao brasileiro. Vukcevic é um médio e não um avançado: não ocupa o centro do ataque, o que convém a Liedson, mas joga uns metros atrás dele, pelo que também não tira os adversários da área. Mesmo assim, foi o suficiente para se ver um Liedson mais rematador e três vezes à beira de comemorar um golo.
OS MELHORES PARCEIROS PARA LIEDSON
Jogador Épocas Um golo a cada Totais
João Pinto 2003/04 30 minutos 30 minutos/1 golos
Lourenço 2003/04 69 minutos 481 minutos/7 golos
Pinilla 2004/05 a 2005/06 81 minutos 484 minutos/6 golos
Sá Pinto 2003/04 a 2005/06 94 minutos 1223 minutos/13 golos
Douala 2004/05 a 2005/06 128 minutos 1669 minutos/13 golos
Derlei 2007/08 135 minutos 269 minutos/2 golos
Bueno 2006/07 142 minutos 710 minutos/5 golos
Yannick 2006/07 a 2007/08 153 minutos 917 minutos/6 golos
Koke 2005/06 179 minutos 179 minutos/1 golos
Niculae 2003/04 a 2004/05 216 minutos 865 minutos/4 golos
Silva 2003/04 237 minutos 1423 minutos/6 golos
Alecsandro 2006/07 239 minutos 959 minutos/4 golos
Deivid 2005/06 a 2006/07 272 minutos 1362 minutos/5 golos
Purovic 2006/07 375 minutos 750 minutos/2 golos
Mota 2004/05 - 101 minutos/0 golos
Danny 2004/05 - 60 minutos/0 golos
Paez 2007/08 - 46 minutos/0 golos
Varela 2005/06 - 34 minutos/0 golos
Celsinho 2007/08 - 7 minutos/0 golos

E OS MAIS EFICAZES
Jogador Épocas Um golo a cada Totais

Alecsandro 2006/07 120 minutos 959 minutos/8 golos
Sá Pinto 2003/04 a 2005/06 175 minutos 1223 minutos/7 golos
Bueno 2006/07 178 minutos 710 minutos/4 golos
Deivid 2005/06 a 2006/07 227 minutos 1362 minutos/6 golos
Pinilla 2004/05 a 2005/06 242 minutos 484 minutos/2 golos
Derlei 2007/08 269 minutos 269 minutos/1 golo
Silva 2003/04 284 minutos 1423 minutos/5 golos
Douala 2004/05 a 2005/06 334 minutos 1669 minutos/5 golos
Purovic 2006/07 375 minutos 750 minutos/2 golos
Niculae 2003/04 a 2004/05 433 minutos 865 minutos/2 golos
Yannick 2006/07 a 2007/08 459 minutos 917 minutos/2 golos
Celsinho 2007/08 - 7 minutos/0 golos
João Pinto 2003/04 - 30 minutos/0 golos
Varela 2005/06 - 34 minutos/0 golos
Paez 2007/08 - 46 minutos/0 golos
Danny 2004/05 - 60 minutos/0 golos
Mota 2004/05 - 101 minutos/0 golos
Koke 2005/06 - 179 minutos/0 golos
Lourenço 2003/04 - 481 minutos/0 golos

Nota – No primeiro quadro verifica-se quais foram os parceiros ao lado dos quais Liedson fez mais golos. No segundo, vê-se quais foram os que fizeram mais golos ao lado de Liedson. São contabilizados apenas os jogos da Liga portuguesa e os minutos jogados ao lado de Liedson.
Mobilidade é uma arma
Os parceiros que mais convieram a Liedson nos quatro anos e meio que leva no Sporting foram todos jogadores que se destacavam pela mobilidade. Mesmo que tiremos do lote João Pinto, que na época de estreia do “Levezinho” jogou apenas 30 minutos a seu lado como ponta-de-lança, verifica-se que os jogadores que mais fizeram render Liedson foram Lourenço, Pinilla (surpresa!), Sá Pinto, Douala e Derlei. Purovic tem a pior média entre todos os que passaram pelo menos dois jogos inteiros ao lado do melhor goleador leonino, sendo secundado neste aspecto por outros atacantes mais posicionais, como Deivid, Alecsandro, Silva, Niculae e Koke.
Embora os números de Pinilla possam ser inflaccionados pelo facto de ter jogado ao lado de Liedson na época em que o Sporting mais produziu ofensivamente – 2004/05, em que o “Levezinho” fez 25 golos – é evidente a tendência para o brasileiro marcar mais quando tem a seu lado outros jogadores móveis. E neste aspecto repara-se que Yannick surge pior colocado do que Lourenço ou Douala, dois jogadores que o Sporting desprezou numa altura em que tinha com eles contrato. Talvez a explicação se encontre no segundo gráfico, onde se mostram os jogadores que mais golos marcaram ao lado de Liedson: Lourenço não marcou um único golo enquanto fazia dupla de pontas-de-lança com o brasileiro, enquanto que Douala também aparece fora do “top”, pois precisava de quase quatro jogos inteiros para levar a bola ao fundo das redes.
Nesse aspecto, o que se percebe mal é a dispensa de Alecsandro que, ao lado de Liedson, marcou quase um golo por jogo e formou, com Deivid, o lote dos poucos que marcaram mais do que o Levezinho enquanto coexistiram em campo.
Publicado em "O Jogo", 16/01/2008

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Milan mostra futuro na estreia do “KaPaRo”

Silvio Berlusconi, que até já tinha prometido que o rapaz era capaz de fazer 30 golos em meia época, exultava no final do Milan-Napoli que assinalou a estreia, com um golo e uma assistência, do adolescente Pato com a camisola vermelha e negra. Os 5-2 finais, a primeira vitória da época em San Siro a contar para a Série A, eram sintomas agradáveis, mas nada lhe dava mais prazer do que a inevitabilidade anunciada de um Milan com dois avançados. Porque ao show-Pato se juntaram Kaká e Ronaldo, na primeira apresentação de um trio que levou os jornais italianos a evocar o mítico “Grenoli” dos anos 50.
Gunnar Gren, Gunnar Nordahl e Niels Liedholm foram os três atacantes suecos cuja associação levou a imprensa italiana a inventar a expressão “Grenoli”. No domingo, Pato fez um golo, festejado com as mãos em forma de coração, com dedicatória à namorada, a actriz Stephany Brito, que fazia de Kelly em “Páginas da Vida”, novela que passou em Portugal na SIC. Mas Kaká também marcou e Ronaldo bisou, pelo que nos jornais de ontem apareceram os títulos: “Kaparo”. E Berlusconi vibrava. “Realizou-se o sonho de muitos adeptos milanistas, que era ver em campo o trio das maravilhas”, disse o dono do clube após o jogo. Na mente de todos ressurgiu a velha polémica, com o patrão a pedir que o Milan jogasse sempre com dois avançados e Ancelotti a ganhar troféus com Inzaghi (ou Gilardino) sozinho na frente. O que pensa disso o treinador? “Perdemos um pouco o hábito de jogar com três atacantes”, explicava Ancelotti, que continua a considerar Kaká no lote para se recusar a dizer que alinhava apenas com um avançado. “Agora, devemos reencontrar um pouco de equilíbrio. Em Janeiro jogaremos a cada três dias e é importante ter toda a gente à disposição, para poder rodar os homens”, prosseguiu Ancelotti, arrumando desde logo o “Kaparo” para ocasiões especiais.
O problema agora é: quem sai? Ronaldinho, esse, já nem entra: foi também Ancelotti quem o assumiu. Kaká é o melhor do Mundo, Ronaldo voltou em grande e, de acordo com Pato, “ele, sim, continua a ser o Fenómeno”. Volta Pato ao banco, remetendo para a gaveta o tal sonho dos milanistas, o “Milan Patómico”, como lhe chamava ontem a “Gazzetta dello Sport”? Não será fácil, a julgar pela catadupa de elogios que caiu sobre o estreante. “Visto que joga no Milan, que a estreia foi em San Siro, que é a Scala do futebol, dava-lhe nota 10 em 10”, avaliou Berlusconi. “Ele será eleito em breve o melhor jogador do Mundo”, vaticinou ao “Globo” de ontem António Careca, o ex-avançado brasileiro a quem Ancelotti comparou Pato e que, no Napoli, fez também parte de dois trios famosos: o “Magica”, com Maradona e Giordano, e o mais cómico “Macaca”, com Maradona e Carnevale. “O Pato tem velocidade, raciocínio rápido e um grande poder de finalização. Sabe tabelar e protege a bola como poucos”, diz ainda Careca, sem esquecer a influência que o estreante pode ter na reabilitação de Ronaldo: “O Ronaldo sabe que é um ídolo para o moleque e não vai querer decepcioná-lo. A chegada de Pato será um recomeço para ele”. Estamos todos a ver uma dor de cabeça?
Publicado em "O Jogo", 15-01-2008