O mito de James Dean fez viver a máxima “vive depressa, morre jovem e conserva um belo cadáver”. Carlos Calado, velocista e saltador ribatejano que fez o país acordar para as disciplinas técnicas, esteve para o atletismo como o actor de Indiana para o cinema: chegou depressa ao cume, talvez depressa demais, e não aguentou o balanço.
Carlos Calado nasceu a 5 de Outubro de 1975 em Alcanena, onde de resto há um pavilhão com o nome dele. Ainda vestia a camisola do Clube de Natação de Rio Maior qaundo foi o primeiro português a saltar mais de oito metros em condições regulamentares. Fê-lo com 20 anos, a mesma idade com que superou os 17 metros no triplo salto. A fama permitiu-lhe integrar o lote de eleitos de Moniz Pereira, que começava a construir no Sporting uma equipa de atletismo que fosse além dos tradicionais crosse e meio-fundo. E Calado correspondeu, alargando a actividade aos 100 metros, onde esteve perto da barreira dos 10 segundos – ficou a 11 centésimos, em 1999 – e trazendo para Portugal medalhas em disciplinas técnicas: foi campeão europeu do comprimento em 1998 e terceiro nos Mundiais ao ar livre e em pista coberta em 2001. Ainda conserva o recorde nacional de salto em comprimento (8,36m) estabelecido em 1997.
Com os resultados, contudo, veio o outro lado de James Dean, o dado aos excessos. Os carros, a boa vida, os desfiles de moda, a vida nocturna… e as lesões, que foram de infecções urinárias a contracturas e fracturas de esforço, levaram-no a viajar de desilusão em desilusão a uma velocidade superior à que atingia em pista. Rompeu com o Sporting no final de 2003, quando o clube cortou no pagamento aos atletas, assinou pelo FC Porto e trocou Miguel Lucas, treinador de sempre, por Fausto Ribeiro. Os treinos passaram a ser controlados à distância e, como ganhava menos e não guardara nada, passou a ter de concentrar-se noutras actividades, como o bar Pharmácia, que reabriu em Alcanena. Talvez por isso, a ligação não resultou e, um ano depois, Calado assinou pelo Bairro dos Anjos, ao mesmo tempo que se inscrevia na equipa de saltos da Universidade de Oviedo, em Espanha, onde passava a contar com Juan José Azpeitia – treinador de Yago Lamela – como técnico.
Em 2005, depois de falhar os Jogos Olímpicos de Atenas, assinou pelo Benfica, mas já era uma sombra do atleta que encantara multidões. Felizmente para ele, Calado não levou o mito-Dean até ao fim [James Dean morreu aos 24 anos, numa colisão frontal, ao volante de um Porsche 550 Spyder] e, no último ano, arrastou-se pelas pistas, não passando dos 7,07m nos Nacionais. De qualquer modo, Dean pode ser um mito, mas actor a sério era o Marlon Brando, que morreu velho e gordo.
Publicado em Correio da Manhã, 24/2/2007
sexta-feira, 2 de março de 2007
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