O Nacional foi, contra o Benfica, uma equipa que procurou privilegiar a segurança na troca de bola. Só assim se explica a elevada percentagem de passes certos feitos num jogo em que poucas ocasiões de golo criou. Alonso, o elemento mais em jogo de toda a equipa, protagonizou 102 intervenções, deixando adivinhar a propensão da equipa para se inclinar para a esquerda. Uma propensão que lhe custou, entre outras coisas, a rara actividade de Bruno e Bruno Amaro, quase dois pesos-mortos na construção ofensiva e por isso mesmo substituídos.
Defensivamente, Carlos Brito não cometeu o erro que seria mandar o seu médio mais recuado seguir o segundo ponta-de-lança adversário, atribuindo essa tarefa a Patacas, lateral-direito que foi apanhado frequentemente a fechar ao meio: só oito das suas 24 intervenções defensivas (22 recuperações e duas faltas) ocorreram na faixa lateral. Enquanto a equipa teve fôlego para se manter junta, a estratégia deu bons frutos e o jogo manteve-se num impasse. Só que, à medida que o tempo foi avançado, Alonso perdeu fulgor (só 13 das 50 intervenções no meio-campo adversário ocorreram nos últimos 30 minutos de jogo), os dois centrais foram engolidos pelo pressing interior do Benfica e deixaram de participar na construção de jogo (nos 16 minutos entre o intervalo e o golo do Benfica Ávalos só tocou na bola três vezes sem ser para defender e Ricardo Fernandes duas) deixando o meio-campo abandonado numa vastidão de terreno onde não era possível conjugar futebol apoiado com busca de profundidade.
Porque o maior pecado no futebol do Nacional foi sempre a falta de profundidade. Benaglio fez algumas saídas de bola curtas, mas quase sempre apostava na bola longa, para Rodrigo ou Diego, também quase sempre perdida. Como o meio-campo não esteve bem nas recuperações (Chainho fez 20, mas só uma no meio-campo ofensivo, enquanto Bruno somou apenas uma, Bruno Amaro sete e Juliano quatro), a equipa só recomeçava a jogar muito atrás. E aí a solução passava por entregar a bola a Alonso, para este invariavelmente combinar com Juliano e a levar até Rodrigo. Meia equipa ficava ostracizada.
JULIANO
Escolhe o lado
Alonso foi o homem mais em jogo do Nacional, mas foi Juliano o mais influente. Começou o jogo como médio-esquerdo e foi o ponto de apoio para as triangulações que permitiam o avanço ao lateral desse lado. Na segunda parte, quando a equipa se colocou em 4x3x3, variou para a direita e foi finalmente possível ver Patacas atacar (37 das 78 intervenções do lateral-direito ocorreram após os 61’ de jogo, 13 das quais no meio-campo do Benfica). Além disso, Juliano fez o mais perigoso remate do Nacional e assistiu os colegas para seis das dez restantes tentativas que a equipa fez à baliza de Quim. Não foi por ele que o Nacional não chegou lá.
CHAINHO
Distribuidor democrático
Chainho não fez um jogo brilhante, mas mostrou que domina como poucos a ocupação dos espaços à frente da defesa e a escolha de rotas para a primeira fase de construção ofensiva. Foi um dos principais recuperadores de bolas (com 20, só batido pelas 24 de Ávalos e pelas 22 de Patacas) e apareceu como apoio frequente para os recuperadores (foi o destino de um terço das recuperações completas do quarteto defensivo). Além disso, foi democrático na distribuição de jogo, no que escolheu preferencialmente os laterais: oito passes para Alonso, seis para Patacas, mas também seis para Diego, cinco para Bruno, Juliano e Rogerinho, quatro para Ávalos e Bruno Amaro.
Publicado em Record, 21/2/2007
sexta-feira, 2 de março de 2007
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