A troca de insultos entre Jaime Pacheco e José Mourinho, dois treinadores que, cada um à sua maneira – e de maneiras diametralmente diferentes –, apresentaram resultados, devia ter pelo menos um mérito: lançar o debate acerca de quem deve poder ser treinador de uma equipa de alto nível. Porque, se a coisa arrancou à conta da promoção de Jorge Costa a técnico principal do Braga e o “Bicho” até ganhou em Parma o primeiro jogo aos comandos, também já podia ter sido motivada pela ascensão de muitos outros dos que, provadamente competentes, são obrigados a recorrer ao adjunto com curso de quarto nível e braçadeira de chefe de equipa.
E o problema não é só português – alarga-se à UEFA. Paulo Bento, por exemplo, depois de ter levado o Sporting a uma série de mais de uma dezena de vitórias seguidas e de ter elevado a equipa ao segundo lugar da Liga portuguesa, foi obrigado a tirar o nome das fichas de jogo na Liga dos Campeões para a qual se qualificou, colocando lá o do adjunto Carlos Pereira, pela simples razão de que este era encartado e ele não. O que leva à pergunta: afinal com o que é que se faz um bom treinador? Tenho duas coisas como certas. A primeira é que não é com um diploma, passado pela Associação Nacional de Treinadores ou por uma faculdade que formam professores especializados. A segunda é que, nos tempos que se vivem hoje – quando a praxis é cada vez menos fundamental para o conhecimento – não há uma resposta concreta e definitiva, tão díspares podem ser as referências de um caso de sucesso.
Há bons treinadores sem formação académica mas com experiência de campo, como Paulo Bento. Contudo, também há bons treinadores sem experiência de campo mas com formação específica, como Arrigo Sacchi. E há bons treinadores que aprenderam a mitigar a falta de experiência de campo respirando desde cedo o ar do balneário e lhe juntaram formação académica e específica, como é o caso de José Mourinho. Para ser bom treinador não é preciso ter sido bom jogador – Wenger, Scolari, Queiroz, para não citar mais, foram futebolistas medíocres – mas o facto de ter sido bom de calções também não invalida que se seja ainda melhor aos comandos. E hoje em dia, até pela influência devastadora que tem tido a modernidade discursiva – cheia de basculações e transições que os homens da tarimba se recusam a aceitar, como se dessa forma se mantivessem permanentemente actualizados – parece estar a cavar-se um fosso intransponível entre os dois campos.
Um bom treinador é aquele que, com este ou aquele método, tira dos meios à disposição mais do que o exigível. Pacheco fê-lo quando levou o Boavista ao título nacional apelando à superação constante dos jogadores, numa abordagem mais emocional. Mourinho fê-lo quando ganhou todos os campeonatos que jogou de princípio a fim, tanto no FC Porto como no Chelsea, recorrendo a um misto de conhecimento científico com intuição pura. E nada disso se aprende num curso de meia dúzia de dias em Rio Maior.
Publicado em Sábado, 28/2/2007
sexta-feira, 2 de março de 2007
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