Ao vê-lo correr meio campo com a bola sem que ninguém o apanhasse, bamboleando o excesso de anca para a esquerda e para a direita e deixando subentendidas as gorduras debaixo da camisola, a imagem que me vem à memória é a de uma matrona de Federico Fellini. Tal como as personagens femininas do mestre de Rimini, Miccoli, o avançado intermitente, é excessivo em tudo. A começar no peso, que toda a gente ficou a saber, pela boca do treinador, estar uns quilos acima do ideal. Mas é-o também nas reacções, a mostrar pelo na venta primeiro, mas a provar em campo depois. Mesmo gordo, a verdade é que foi o mais rápido a chegar a dois ressaltos na área, que transformou em dois golos decisivos, primeiro contra o Dínamo de Bucareste e depois na Choupana, com o Nacional. Mesmo gordo, fez sem ser apanhado os 40 metros que separam a saída do seu meio-campo e a marca de penalti e, face ao elegante Benaglio, meteu-lhe a bola entre a cabeça e a mão. No primeiro caso, compensou o excesso de peso com sentido posicional; no segundo com uma vontade tão exagerada como o movimento do ponteiro da balança sempre que o acciona. Miccoli pode estar pesado, mas não perdeu peso específico na equipa.
Publicado em Correio da Manhã, 20/2/2007
sexta-feira, 2 de março de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário