A clara ultrapassagem do Benfica ao Sporting na tabela da Liga tem a ver com a forma como as duas equipas se vêm portando disciplinarmente. Depois de um início de época atribulado, com quatro expulsões nos primeiros três jogos, nos quais somou apenas três pontos, o Benfica estancou a onda de indisciplina que ameaçava tomar conta da equipa e já é, nas contas do deve e do haver das expulsões, o candidato mais favorecido pelas inferioridades numéricas.
Importante terá sido a forma como tanto a direcção como equipa técnica se recusaram a desculpabilizar os jogadores indisciplinados: Leo foi alvo de críticas públicas depois de deixar a equipa reduzida a 10 homens em Paços de Ferreira. Mas a forma como, em Alvalade, por exemplo, se olhou para o lado no caso da expulsão de Liedson não explica tudo. Poupados aos cartões vermelhos nas primeiras dez jornadas – o único visou João Alves, já depois de ter acabado o Sporting-Paços de Ferreira – os leões deixaram-se afundar num turbilhão disciplinar nas dez que se seguiram, com quatro expulsões decisivas.
É que, além de serem, entre os três candidatos ao título, os que têm saldo mais negativo (têm mais 58 minutos em inferioridade do que em superioridade numérica), os jogadores do Sporting fizeram-se expulsar em jogos ainda por decidir: Carlos Martins a 23 minutos do fim da visita ao Belenenses, com 0-0 no marcador; Alecsandro a meia-hora do final do jogo com o Boavista no Bessa, com a equipa a ganhar 1-0 (Zé Manuel foi depois expulso); e Liedson a 69 minutos do final do desafio com a União, em Leiria, com o placar virgem. Em contrapartida, sempre que tiveram a sorte de ver adversários expulsos, nunca disso se aproveitaram, ou porque o jogo estava perto do fim, ou porque já ganhavam ou perdiam folgadamente. A história do Benfica, que tem mais 100 minutos em superioridade do que em inferioridade numérica, é exactamente a inversa. Três das suas quatro expulsões sucederam no mesmo jogo, a visita ao Bessa, e arrancaram quando a equipa já perdia. Mas as vitórias obtidas em casa com o Marítimo e o E. Amadora só se consumaram quando os adversários já estavam reduzidos a dez, por expulsões de Marcinho e Pedro Simões, respectivamente.
Estranho é o facto de, mesmo sendo dos três a equipa que mais faltas sofre (ver texto e quadro abaixo), o FC Porto só ter tido um adversário expulso em 20 jogos: foi Alcaraz, há mais de meio campeonato, num jogo que os pupilos de Jesualdo Ferreira já ganhavam. Daí que, tal como o Sporting, também o FC Porto apresente um saldo negativo de meia-hora entre tempo com jogadores a mais e a menos. E no dia em que ficou reduzido a dez (em Leiria, por vermelho a Quaresma), perdeu mesmo.
FC Porto
Minutos em superioridade numérica - 15
Minutos em inferioridade numérica - 45
Benfica
Minutos em superioridade numérica - 148
Minutos em inferioridade numérica - 48
Sporting
Minutos em superioridade numérica - 54
Minutos em inferioridade numérica - 112
FC Porto melhor em tudo
O FC Porto é o mais rematador dos três candidatos ao título, mas não deixa ficar a superioridade por aí: além de visarem mais vezes as balizas adversárias, os jogadores de Jesualdo Ferreira são igualmente os que melhor se defendem, concedendo ao opositor menos situações de finalização.
Em média, por jogo, o FC Porto remata 14,2 vezes e apenas permite ao adversário ameaçar Helton em 7,6 ocasiões. Daí que se percebam melhor as razões que levaram o FC Porto a marcar golos em 18 dos seus 20 jogos, ficando apenas duas vezes em branco (e seguidas, contra a U. Leiria e o E. Amadora). O Benfica não fez golos em três ocasiões (duas face ao Boavista, outra com a Naval) e o Sporting em cinco (Paços de Ferreira, Benfica, Belenenses, Aves e Leiria). Trata-se, sobretudo, de uma questão de eficácia, pois se os jogadores de Paulo Bento precisam de 8,8 remates para fazer um golo, os homens de Fernando Santos conseguem-no a cada 6,6 remates e os de Jesualdo Ferreira a cada 6,4.
Já do ponto de vista defensivo, o comportamento do Sporting é melhor que o do Benfica, pois apenas permite que os adversários chutem 8,4 vezes por jogo, contra as 9,4 autorizadas pelo Benfica. O FC Porto tem a melhor defesa, com apenas 10 golos sofridos e 12 balizas invioladas, enquanto que o Sporting, que tem o mesmo número de adversários deixados a zero, já encaixou 12 golos. O Benfica, com 14 golos sofridos, até manteve a baliza virgem por 11 vezes (sete nos últimos nove jogos), mas é penalizado pelas três vezes em que deixou o campo vergado à “chapa três” do adversário.
Publicado em Record, 7/3/2007
quarta-feira, 14 de março de 2007
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