sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Andreia Couto - A diplomata da família

Um episódio marca a carreira de Fernando Couto – em 1994, no Estádio da Luz, não resistiu às provocações de Mozer, agrediu-o, foi expulso e o FC Porto perdeu. No final, Bobby Robson não esteve com meias medidas e, com os gestos largos e espectaculares que sempre usava, disse: “Result: Mozer 2, Farnandou Coutu 0”. Depois, Couto mudou. Serenou e transformou a revolta incontida em liderança incontestada, tanto no clube como na selecção nacional. Tornou-se, um pouco, um defesa central à imagem da irmã mais nova, Andreia, uma pacata advogada que aprendeu a gostar de futebol e nele alcançou posição de destaque graças à mesma discrição que Fernando adoptou na fase final da sua carreira.
Licenciada em Direito pela Universidade Portucalense – e com uma pós-graduação em Direiro do Desporto na Universidade Lusíada do Porto – Carmen Andreia da Silva Couto chegou à Liga Portuguesa de Futebol Profissional em Setembro de 2002, para trabalhar como assessora jurídica. A partir daí, os seus ciclos de vida têm durado menos de dois anos. Em Abril de 2004, passou a dirigir o departamento de registo de contratos. Em Janeiro de 2006, quando o açoriano Emanuel Medeiros foi viver para a Suíça, na sequência da sua nomeação como director-geral da Associação das Ligas Europeias, foi a escolhida de Valentim Loureiro para lhe ocupar a vaga como secretária-geral. E na direcção de Hermínio Loureiro, recentemente empossada, subiu ainda mais um degrau, passando a ocupar o cargo que anteriormente tinha sido de José Guilherme Aguiar ou Francisco Cunha Leal: directora-executiva, .
A ascensão, feita “ao colo” do “padrinho” Valentim, tem ameaçado romper com a tranquilidade da diplomata da família Couto. Fosse por ser mulher num Mundo de homens, por ser desconhecida mas ter um irmão famoso ou por nunca renegar a herança do autarca de Gondomar, Andreia foi subitamente transformada em saco de boxe pela oposição à lista de Hermínio Loureiro. Nela se centraram as vozes dos que, como Rui Alves, presidente do Nacional, acusam Valentim de estar a puxar os cordéis e a operar as marionetas que deixou na Liga. Hermínio diz que não, que foi ele quem a escolheu, com base na observação do trabalho feito ou, como o próprio já disse, “na competência, disponibilidade e saber”. Mas Hermínio é um homem do “marketing”, que sabe quão importante para o negócio do futebol é a renovação, personificada numa mulher que gosta de “world music” e lê Alçada Baptista. Mesmo que como isso prolongue o efeito-Valentim na Liga e no futebol português.

Publicado em Correio da Manhã, 13/1/2007

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