Artur Jorge, Ricardo Rocha, Paulo Jorge… Tudo produtos do mesmo molde. Primeiro veio o defesa central com nome de treinador-poeta, que chegou da formação a capitão de equipa e a líder de balneário mas nunca saltou para um grande. Um dia, antes de um jogo com o Sporting campeão, Artur Jorge viu o quinto cartão amarelo e Manuel Cajuda não hesitou em chamar o jovem Ricardo, duro como uma rocha, que tinha vindo de Famalicão para a equipa B, para marcar Acosta. O Braga ganhou e Ricardo também. Desde essa noite de Setembro de 2000, passava a fazer parte dos crescidos.
Terá sido essa a primeira vez que Ricardo Rocha deixou de amaldiçoar o dia em que viu gorar-se a transferência do Famalicão para o Corunha, que um ano antes tinha ido buscar Hugo Carreira ao Barreirense e estava decidido a continuar a explorar o filão que era a II Divisão B portuguesa. Sem se confirmar a passagem da fronteira, Ricardo preferiu o Braga ao Salgueiros e ao Vitória de Guimarães, mas manteve-se longe dos holofotes, na Zona Norte da II Divisão B. Até ao tal jogo com o Sporting. “Percebi que o Acosta gosta de segurar a bola para forçar o defesa a fazer faltas e tratei de me acalmar”, explicou no final do desafio em que substituiu com sucesso Artur Jorge, o seu ídolo mais próximo. Porque ídolo a sério era o italiano Alessandro Nesta – “É o melhor central do Mundo”, dizia.
Em Braga, Ricardo só esteve três épocas. A terceira, já feita como titular, permitiu-lhe chamar a atenção de clubes ainda maiores. O Boavista de Jaime Pacheco, que era campeão nacional, interessou-se pelo seu estilo empenhado, duro, sem hesitar quando tinha de recorrer ao “jogo rasteiro”. Mas foi o Benfica quem levou a melhor, quem sabe se por causa de uma predilecção especial do jogador para se destacar frente ao Sporting. Foi aos leões que marcou os primeiros golos: o primeiro em casa, numa vitória por 2-1, na repetição do jogo de estreia; o segundo em Alvalade, num empate a duas bolas, já na segunda volta do campeonato, quando já tinha acertado a transferência para a Luz.
No Benfica, fosse qual fosse o treinador, o minhoto que a certa altura passou a ostentar umas patilhas “à Figo” foi sempre titular. Mas raramente como central: a inteligência táctica com que pintalgava um tipo de jogo sempre muito à base da garra, permitia-lhe ser utilizado em qualquer posição defensiva, fundamentalmente como garante de estabilidade no lado esquerdo. Uma coisa, contudo, parecia escapar-lhe: um contrato no estrangeiro. Até este ano. Depois de uma aposta inicial em Luisão e Anderson, Fernando Santos recorreu a Ricardo para o eixo da defesa. Este regressou à selecção nacional, voltou a marcar golos – o primeiro, ao Braga, seguido de uma raiva difícil de entender, o segundo ao cliente do costume, o Sporting – e acabou mesmo por chamar a atenção do Tottenham.
“Mudei o meu estilo de jogo. Passei a acalmar-me mais e não vi um único cartão amarelo em toda a primeira volta do campeonato”, salientava há dias o jogador. Afinal, além de fazerem parte da sabedoria popular, a calma e o jogo rasteiro já tinham sido o segredo para anular Acosta.
Publicado em Correio da Manhã, 27/1/2007
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário