sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

O goleador completo

O goleador completo da Liga portuguesa teria de somar o jogo aéreo ofensivo de Katsouranis, a precisão da perna direita de Simão, a potência da perna esquerda de Zé Pedro e a alma de Hélder Postiga. E, já agora, contar com Quaresma na equipa para lhe dar os passes de morte (ver texto nesta página).
Se decompusermos os 273 golos marcados nas 14 jornadas já efectuadas na Liga, chegamos aos nomes dos maiores especialistas na arte de golear. Embora jogue a meio-campo, Katsouranis é o melhor goleador da Liga de cabeça, com quatro tentos assim conseguidos. O boavisteiro Linz e o bracarense Paulo Jorge, com três, seguem de perto este grego que marcou pelo alto quatro dos cinco golos que já fez até agora e que, além disso, é mais perigoso nas segundas partes (quatro em cinco golos depois do intervalo) e divide na perfeição os seus golos de cabeça entre lances de bola corrida (dois) e de bola parada (outros dois).
Para compensar a propensão de Katsouranis para marcar nas segundas partes, há que juntar ao protótipo a perna esquerda de Zé Pedro, o médio do Belenenses que marca sobretudo antes do intervalo: fez até ao descanso cinco dos seus seis golos. E, apesar de se ter estreado a marcar de pé direito, na segunda jornada, frente ao V. Setúbal, não mais o utilizou para golear, escolhendo sempre, desde essa altura, o esquerdo, com o qual marcou dois penalties, um livre directo e dois golos em bola corrida. Uma coisa é certa: a especialidade de Zé Pedro é a meia distância pois, com excepção dos dois penalties, marcou todos os seus golos de fora da área.
Como, contudo, a maioria dos golos da Liga são marcados de pé direito (124 em 273, quase metade) e dentro da área (226 em 273, mais de 80%), convém não desprezar esta forma de chegar às redes. E, se o assunto é a capacidade da perna direita, é inevitável que se fale de Simão, que com ela fez todos os seus seis golos, todos dentro da áera e quatro deles de grande penalidade – também nisso, o atacante do Benfica é o recordista de uma Liga este pouco dada a grandes penalidades (apenas 14 golos assim marcados) ou livres directos (nove golos assim obtidos até agora). O academista Lino e o benfiquista Karagounis são os melhores nos livres directos, com dois.
De fora dos tops para especialistas fica aquele que é o melhor goleador da Liga, o portista Hélder Postiga. E fica por uma razão: está transformado num goleador total. Se no seu melhor ano até aqui (2002/03), Postiga fez onze golos de pé direito, um de cabeça e um de pé esquerdo, esta época está a dividir na perfeição as formas de marcar. Dos 10 golos que fez até agora, quatro foram conseguidos de pé direito, quatro de pé esquerdo e dois de cabeça. Postiga é ainda o melhor goleador da Liga na pequena área, com quatro golos, dois a passe de Quaresma e outros dois em recarga ou desvio de remate condenado ao fracasso e, embora com sorte, já marcou de fora da área, contra o Benfica.
Conselho aos recrutadores de mercado – se não conseguirem montar o goleador perfeito, por falta de peças disponíveis, podem usar este.


Quaresma reina no passe
Quaresma é o melhor passador desta Liga, com dez assistências para golo em 13 jogos (o extremo não defrontou o E. Amadora, logo à segunda jornada). Números notáveis, até pela distância a que deixa os maiores perseguidores, o benfiquista Simão, com seis passes decisivos, o sportinguista Tello e o bracarense João Pinto, ambos com cinco.
A diversidade das formas utilizadas por Quaresma para oferecer golos aos colegas leva a que ele tenha que estar na equipa de sonho da Liga: sete das suas dez assistências nasceram em lances de bola corrida – mas também as fez de canto ou livre indirecto – e seis delas originaram golos de cabeça. O principal beneficiário da acção de Quaresma tem sido Pepe, a quem deu mais golos (três) que a Postiga (dois). As suas outras assistências tiveram como destinatários Lucho González (duas), Cech, Lisandro Lopez e Bruno Moraes (uma cada). E fora deste lote estão golos nascidos indirectamente da sua acção, como os de Postiga ao Paços de Ferreira e ao Belenenses, que saíram de uma segunda vaga após cantos por ele marcados.
Menos diversificados são os outros reis das assistências. Quatro dos cinco golos dados por João Pinto nasceram em cantos, o mesmo sucedendo com três dos cinco oferecidos por Tello. Simão, por sua vez, fez quatro das seis assistências em livres indirectos ou cantos.


ALGUNS FACTOS SOBRE OS GOLOS
Seis dos nove golos de livre directo foram marcados de pé esquerdo. Mas 10 dos 14 feitos de penalti foram obtidos de pé direito. É tempo de lembrar uma velha regra – os livres directos são para os canhotos, mas nem pensar em dar-lhes penaltis para marcar.

O navalista Nei e o portista Lucho González, com três golos cada, são os melhores marcadores no último quarto-de-hora, altura em que o Beira Mar é a defesa mais vulnerável, com dez golos sofridos. O Braga, em contrapartida, sofre muitos golos a abrir (cinco nos primeiros 15’).

O Benfica é a equipa da Liga com mais golos sofridos de fora da área (cinco). O FC Porto só encaixou um, tal como a U. Leiria, que tem um registo curioso: é ainda a melhor defesa a abrir (zero golos nos primeiros 15’), a fechar (um golo nos últimos 15’) e em lances de bola parada (apenas um golo sofrido).

Pior vão as coisas para a U. Leiria na fase atacante, onde é a única equipa da Liga que ainda não fez golos de fora da área. Atípico é o registo do Belenenses: fez seis golos em 15 de fora da área, 10 em 15 de pé esquerdo e é uma das três equipas que marca mais golos na primeira parte (10), do que na segunda (5).

O Sporting é a equipa ofensivamente mais forte na pequena área, onde conseguiu fazer nove golos. Fraca é a prestação do E. Amadora, única equipa que ainda não marcou tão perto da baliza.

Publicado em Record, 3/1/2007

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