A União de Leiria mostrou no Estádio da Luz um futebol muito paciente e apoiado, de risco diminuto, com apelo a uma ocupação racional dos espaços no plano defensivo e a um jogo ofensivo de pé para pé, sem querer saltar etapas. Falhou, contudo, na ligação aos atacantes, que com Paulo Machado (o substituto do ponta-de-lança na passagem do habitual 4x3x3 para o 4x4x2, cuja missão principal era precisamente activar os dois extremos) foram os homens menos em jogo.
O guarda-redes Fernando alternava com frequência as saídas longas de bola, com destino sobretudo a Sougou, mas também a Ivanildo ou Faria, com uma saída curta absolutamente invulgar no futebol português. Aqui, eram Renato e Tixier os parceiros privilegiados para dar início aos ataque e desde logo se começavam a formar duas equipas atacantes. Uma, arrancava em Tixier, passava depois por Paulo Gomes ou Faria para chegar a Paulo Machado. A outra, dependia da escolha do médio centro, Paulo Gomes, que por vezes ligava com Harison e Laranjeiro.
A presença de Paulo Gomes em comum nos dois “conjuntos” mostra outra originalidade da equipa de Domingos Paciência. Por ser quem está no centro da acção, o médio posicional não é o mais agressivo do ponto de vista defensivo, mas sim aquele que tem melhor critério na definição das jogadas, na escolha dos caminhos. Paulo Gomes tocou 49 bolas e só 13 das suas intervenções foram defensivas (ver texto abaixo). Em contrapartida, Faria, que jogava mais à frente, sobre a esquerda, teve 16 intervenções defensivas (13 recuperações e 3 faltas) em 40 e Harison, na direita, teve 15 (9 recuperações e 6 faltas) em 57.
O que poucas vezes a equipa conseguiu – apesar do elevadíssimo nível geral de acerto de passes – foi meter a bola em Paulo Machado, o homem que devia dar profundidade atacante. Entre os jogadores que trouxeram mais risco à equipa, Tixier e Harison, foi-se perdendo a ligação à frente: dos 10 passes perdidos por Tixier, quatro iam para Machado, dois para Sougou e um para Ivanildo; dos 13 transviados por Harison (perdeu ainda uma bola em drible) quatro iam para Sougou, dois para Ivanildo e um para Machado.
PAULO GOMES
Um anti-trinco
Ao contrário da generalidade dos jogadores que fazem da “cabeça-de-área” o seu “habitat”, Paulo Gomes está mais à vontade com a bola do que sem ela. Contra o Benfica, tocou 49 vezes na bola, a grande maioria (36) na fase construtiva. É verdade que só perdeu cinco passes em 90 minutos, mas a falência da equipa quando o Benfica acelerou também teve a ver com ele. Se na primeira parte, em que lhe coube sobretudo gerir a posse de bola, teve 32 intervenções, no segundo tempo, quando a principal tarefa era correr atrás dos adversários, quase desapareceu do jogo e viu a sua importância cair para metade (apenas 17 intervenções).
HARISON
Supreendente a defender
Vinha credenciado como médio especializado no último passe e, se é verdade que contra o Benfica nunca conseguiu metê-lo em campo (zero em passes que tenham originado remates e apenas cinco bolas tocadas nos últimos 20 metros do campo), também surpreendeu pela forma como se entregou ao trabalho sujo em prol da equipa. Quinze das suas intervenções foram de cariz defensivo – neste particular só foi superado por Marcos António (22), Faria (16) e Laranjeiro (16), mas bateu jogadores mais dados a isso, como Renato (10) e Paulo Gomes (13) – embora seis delas tenham sido em falta, o que fez mesmo dele o elemento mais faltoso da equipa e o levou à expulsão.
Publicado em Record, 24/1/2007
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
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