sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Os donos das balizas

Quim está há 408 minutos sem sofrer golos, desde que foi batido pelo maritimista Marcinho, no Estádio da Luz, ainda em Novembro, em jogo da 11ª jornada da Liga. A série em curso, que é ao mesmo tempo a melhor do campeonato, permitiu ao Benfica amealhar 10 pontos em Dezembro, mês durante o qual apenas não venceu a Naval (empate a zero, na Figueira da Foz), e manteve a equipa de Fernando Santos na corrida para o título, ainda que distante do líder, o FC Porto.
A performance do seu guarda-redes é mesmo uma das poucas coisas em que o Benfica supera os actuais campeões, pois apesar de ser um dos homens que mais jogos fez sem sofrer golos na Liga (oito vezes imbatido em 14 desafios), Helton não passou dos 316 minutos seguidos sem essa desilusão: foi logo no início do campeonato, entre o tento marcado pelo leiriense Sougou e o primeiro golo sofrido em Braga, da autoria de Marcel. Uma mudança de realidade para Helton, que tomou de assalto a baliza do FC Porto na época passada, mantendo as redes invioladas em nove dos onze jogos para os quais foi chamado por Co Adriaanse – neles, sofreu apenas dois golos.
Desta forma, a série que Quim superou no jogo com o Belenenses foi a do titular da selecção, o sportinguista Ricardo, que até esse momento era o detentor da melhor soma de minutos sem sofrer golos: 363’, entre duas bolas que foi buscar ao fundo da baliza norte de Alvalade, o primeiro marcado pelo pacense Ronny, o segundo pelo portista Quaresma. Aliás, nesses dois golos está o retrato fiel da forma como é mais comum ao Sporting sofrer golos: em casa (fora, só por uma vez deixou que uma equipa batesse o seu guarda-redes – o Beira Mar) e no seguimento de bolas paradas (como foi batida por seis vezes em nove golos sofridos).
Entre os reis das balizas aparecem ainda dois homens que não jogam num grande: o leiriense Fernando e o belenense Costinha. Fernando, que até começou a época no banco, cedendo a vez entre os postes a Bruno Vale nas primeiras duas jornadas, só sofreu golos em cinco jogos. Tem ainda a particularidade de nenhum deles ter sido de fora da área – o único que a U. Leiria assim cedeu foi o último de Vale, antes de passar a suplente. De qualquer modo, o brasileiro vê a média de golos sofridos prejudicada pelo facto de, numa das partidas em que foi batido – contra o Benfica – ter ido buscar quatro bolas ao fundo das redes. Aliás, o mesmo se passou com Costinha, que perdeu três jogos por lesão – e neles o Belenenses sofreu sempre golos – mas que, ainda assim, manteve a baliza virgem por cinco vezes. Não tivesse sido aquela “chapa quatro” na Luz e o seu registo andaria próximo do ideal.
O próprio Quim sabe bem o que isso é pois, apesar de não ter sofrido golos em metade dos seus 14 jogos, encaixou logo três em três partidas (Boavista, FC Porto e Sp. Braga, sempre fora de casa, numa estranha aversão ao Norte do país, de onde é natural). Mesmo assim é, em ambas as tabelas individuais, quem mais se destaca entre os 26 guarda-redes já utilizados pelas equipas na presente Liga.


MAIORES SÉRIES SEM SOFRER GOLOS
1º Quim (Benfica) 408’ (em curso)
2º Fernando (U. Leiria) 372’ (7ª à 11ª jornada)
3º Ricardo (Sporting) 363’ (3ª à 7ª jornada)
4º Helton (FC Porto) 316’ (1ª à 5ª jornada)
5º Costinha (Belenenses) 263’ (6ª à 8ª e 12ª jornada)

MAIS JOGOS SEM SOFRER GOLOS
1º Ricardo (Sporting) 8 em 13
2º Helton (FC Porto) 8 em 14
3º Fernando (U. Leiria) 7 em 12
4º Quim (Benfica) 7 em 14
5º Costinha (Belenenses) 5 em 11


Meninos bem-comportados
Auri, defesa-central do V. Setúbal, e Tininho, lateral esquerdo do Beira Mar, mereciam um prémio “fair-play” pela forma impressionante como se portaram na primeira fase da época. Ambos estiveram presentes nos 14 jogos, sem falhar um único minuto de Liga, e apesar de a sua missão ser fundamentalmente defensiva e de os obrigar a recorrer a faltas, não viram um único cartão.
Tininho e Auri são dois dos quatro totalistas do campeonato com a folha disciplinar limpa. Os outros dois meninos bem-comportados são Taborda e Helton, guarda-redes da Naval e do FC Porto, respectivamente. Mas a proeza que protagonizaram não é tão destacada como a dos colegas que jogam mais à frente, pois os guarda-redes não são tão chamados a jogadas de contacto físico e, por isso, são menos susceptíveis de motivar este tipo de acção disciplinar por parte dos árbitros.
Já na época passada estes dois jogadores se destacaram pela forma disciplinada como estão em campo. Auri fez 32 jogos pelo V. Setúbal e viu apenas dois cartões amarelos, ambos na segunda volta – registo notável de um veterano com uma década em Portugal (126 jogos na I Liga, mais 97 na segunda), cuja última expulsão data de Setembro de 2001, num Chaves-Leça da II Liga. Quanto a Tininho, já na época passada, na II Liga, viu apenas um cartão amarelo em 34 jogos (contra o Barreirense, na 9ª jornada), mas tinha sido expulso em 2004/05, frente ao Gil Vicente.


FACTOS RÁPIDOS
Rui Patrício e Mota são os únicos dos 26 guarda-redes utilizados que ainda não sofreram golos. Mas se o primeiro fez apenas um jogo inteiro, pelo Sporting, contyra o Marítimo, o segundo nem isso, pois esteve em campo apenas 61 minutos, antes de se lesionar, em casa com o Belenenses.

Seis dos 26 guarda-redes utilizados, em contrapartida, nunca festejaram um jogo “em branco”. São eles Marco (Belenenses, 3 jogos), Marco Tábuas (V. Setúbal, 2 jogos), Nelson (V. Setúbal, 7 jogos), Danrlei (Beira Mar, 6 jogos), Todor (Beira Mar, 1 jogo) e Bruno Vale (U. Leiria, 2 jogos). De todos, só Nelson é actualmente titular.

Fernando, da Naval, Litos, da Académica, e Nuno Gomes, do Benfica, são os únicos jogadores com duas expulsões no cadastro nas 14 jornadas já efectuadas da I Liga. O jogador do Benfica tem uma agravante – joga como avançado – mas é o defesa da Académica quem desempata a seu favor, com quatro cartões amarelos.

Os jogadores mais amarelados da Liga são Filipe Anunciação, do Aves, e Sandro, do V. Setúbal, ambos com sete admoestações. O “capitão” do V. Setúbal tem a agravante de ter visto dois desses amarelos no mesmo jogo e foi mesmo expulso, enquanto Anunciação soube sempre quando era altura de parar.


Publicado em Record, 10/1/2007

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