O Mundial de sub-20, há 15 anos, foi o momento de glória suprema de Emílio Peixe, um pacato e reservado nazareno que nessa altura levantou a Taça de campeão e foi escolhido melhor jovem futebolista do Mundo. Até aos dias de hoje, quando já começou a vida de treinador, enquanto Figo se entretém a contar os milhões de uma proposta da Árabia Saudita, essa foi também a última vez que Peixe suplantou o seu eterno duplo desde o dia em que ambos despontaram como maiores esperanças de um Sporting que começava a descobrir as maravilhas da formação.
Os dois foram campeões mundiais de juniores, em Lisboa, na mesma tarde. Os dois se estrearam na selecção principal na mesma noite de Outono de 1991, a de um frustrante empate com o Luxemburgo. Mas quando começaram a surgir problemas relativos às renovações de contrato, Sousa Cintra já falava do “Figue e do Pêxe”, por esta ordem. E quando, no mesmo Verão, o de 1995, os dois saíram para Espanha, Figo viu abrirem-se-lhe as portas do grande Barcelona, enquanto Peixe teve de optar pelo mais modesto Sevilha. Aí começaram os problemas deste médio defensivo prático, por vezes excessivamente duro a contrastar com o seu aspecto frágil, mas sempre preocupado com o lançamento do ataque rápido graças a uma boa técnica de desarme e passe.
Em Sevilha, Peixe começou por ter o apoio de Toni. Mas o treinador português ficou pouco tempo e, para cúmulo, à chegada, os dois depararam com uma novela de contornos obscuros – a descida à II Divisão B por incumprimento de regras da Liga que mandavam apresentar provas de solvência. A descida foi anulada, mas Peixe nunca impôs o seu futebol na Andaluzia. A ponto de, meses depois, estar de regresso a Alvalade. Onde, contudo, não voltou a ser feliz, muito devido ao despedimento de Carlos Queiroz, o treinador que o revelara nas selecções juniores e que em dois anos lhe deu as 12 internacionalizações que ostenta no currículo.
Pouco utilizado, Peixe rumou ao Porto, onde ainda foi duas vezes campeão nacional – a jogar pouco – e fez uma boa época – a do título perdido para o Sporting de Inácio. Mas o relacionamento com Veiga – fundamental nas saídas de Alvalade, mas que entretanto rompera com Pinto da Costa – levou-o à porta da rua. No final de 2001, quando Figo, já no Real Madrid, festejava a eleição como Jogador Mundial do Ano, Peixe trocava as Antas pelo Alverca. A vida ainda o levou ao Benfica, como parte de uma estratégia que incluía a repescagem de rejeitados de Pinto da Costa, como Fehér, Zahovic, Drulovic ou João Manuel Pinto. Mas Peixe já não era o de outros tempos. As lesões persistentes tinham-lhe abalado tanto o físico como uma mente sensível e pouco preparada para o sofrimento. A passagem por Leiria não foi mais que o adiamento de um final de carreira prematuro, consumado quando Figo se preparava para jogar a final do Euro’2004 na mesma Luz em que, década e meia antes, os dois tinham levantado a taça de campeões do Mundo.
Publicado em Correio da Manhã, 30/12/2006
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
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