A possibilidade de Luiz Felipe Scolari utilizar Pepe na selecção nacional em 2007 deve ser encarada com toda a naturalidade num Mundo cada vez mais global, onde cada um pertence onde se sente melhor. Se Pepe chegar a representar Portugal, onde vive e joga futebol desde os 18 anos, depois de ter crescido em Maceió, no Brasil, a situação em nada difere do que se faz por todo o Mundo neste momento. Pelo contrário – a língua e a vivência comuns tornam-na muito mais natural do que a generalidade dos casos de brasileiros sem lugar no “Escrete” que jogam por selecções tão distintas como a Tunísia, a Croácia ou o Azerbaijão.
Com as fronteiras a diluírem-se cada vez mais, não é normal que se criem resistências de sangue quando há uma identificação de facto. O que faz de David Trezeguet francês? A nacionalidade do pai, que o rapaz nasceu e cresceu na Argentina e chegou à selecção francesa quando ainda quase não falava a língua. Essa é, igualmente, a situação de Manuel da Costa, o jovem defesa central filho de portugueses que nasceu em França, joga na Holanda e mal fala português. Optou por Portugal como Robert Pires, filho de minhotos mas com vivência francesa, escolheu as cores gaulesas – levando a que muitos criticassem a inércia da FPF, que o deixou fugir. Talvez por isso, por haver um reconhecimento de alguma argúcia, ninguém contestou a chamada de Manuel da Costa à selecção de sub-21 ou a sua recente presença no estágio da equipa principal. Ora não é normal que um indivíduo de sangue português e vivência francesa possa jogar na selecção mas o mesmo não suceda com alguém que nasceu brasileiro mas escolheu, de facto, ser português, muito antes de ser hipótese para a equipa nacional. As resistências a Pepe têm sobretudo a ver com raça e são, por isso, do domínio de uma coisa muito feia, que se chama racismo.
O caso de Pepe não tem sequer nada a ver com o de Celso, o brasileiro que Pedroto chamou à selecção nacional logo após o 25 de Abril. Celso chegou a Portugal aos 23 anos, para jogar no Boavista, mudou-se para o FC Porto dois anos depois e chegou à selecção com 29 anos, defrontando a Polónia. Pepe tem tanta legitimidade para se sentir português como Deco, que chegou ao país com 19 anos. Na pior das hipóteses, o seu caso pode ter a ver com o dos futebolistas nascidos nas ex-colónias e mesmo assim estreados na selecção já depois do 25 de Abril e da respectiva independência. E não são poucos, desde o moçambicano Shéu, em 1976, aos angolanos Edgar, Vidigal e Cabral, em 2000/01, com passagem pelos guineenses Alberto e Reinaldo ou pelos cabo-verdianos Oceano e Neno. Aliás, se atentarmos na origem dos 230 internacionais feitos depois da revolução de 1974, verificamos mesmo que só Lisboa, Porto, Braga, Setúbal e Aveiro, os cinco centros do futebol nacional, deram neste período mais internacionais ao país que Angola. Que Moçambique vem logo a seguir. Ou que Cabo Verde e Guiné Bissau juntos geraram tantos jogadores para a selecção como Trás-os-Montes e mais do que o Alentejo ou o Algarve.
O que interessa perceber é se Pepe, português de direito e papel passado, interessa à selecção. E, com Meira e Andrade há tanto tempo lesionados, tem sobrado uma vaga ao lado de Ricardo Carvalho. O que pode dizer-se é que já vem tarde.
DÚVIDAS LEGÍTIMAS
Rochemback faz falta ao Sporting?
Sim. Com o regresso de Rochemback, o Sporting pode ganhar poder físico e capacidade de transporte de bola a meio-campo, criando uma alternativa válida ao futebol de passe e desmarcação. Além de que ganha fogo na meia-distância e alegria no balneário. Assim Rochemback se deixe contratar e, depois, controlar.
Figo faz bem em ir para a Arábia?
Do ponto de vista competitivo, claramente que não. Figo está no campeonato italiano, tem opções de ganhá-lo, bem como à Liga dos Campeões, pelo que se percebe mal que se exile em Jeddah. A não ser que queira passar a mensagem de uma pré-reforma activa, sem grandes pressões mas um salário de xeque. Mas isso já é outra coisa.
Carlos Alberto é boa opção para Portugal?
Dificilmente. No FC Porto, com Anderson, não cabe. No Benfica, está a regressar Rui Costa. No Sporting, não teria a exposição internacional que a MSI pretende. Além de que, se já tem dificuldades para controlar a indisciplina táctica de Martins, a última coisa de que o Sporting precisa é de um Carlos Alberto.
Publicado em Record Dez, 30/12/2006
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
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