sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

A oportunidade de Vieirinha

Em Leiria, o FC Porto perdeu Quaresma e, quase de imediato, perdeu o jogo. As razões, contudo, não devem ser apenas encontradas na dependência dos campeões nacionais em relação ao seu melhor e mais desequilibrante jogador. O FC Porto perdeu em Leiria porque, além de Quaresma, perdeu também a tranquilidade, a paz de espírito com que se constroem as vitórias. Mais do que ter sido Quaresma o expulso, pesaram os factos de estar a jogar com menos um e, sobretudo, de ter deixado que factores como a arbitragem lhe tirassem esclarecimento.
Até hoje, em dois anos e meio de colaboração, nunca o FC Porto perdeu um jogo em que Quaresma não estivesse. O extremo faltou nove vezes e nelas os dragões somaram sete vitórias e dois empates, um deles num desafio que já não contava para nada – a visita ao Bessa na última jornada da Liga do ano passado, já com a festa do título feita – e que Adriaanse encarou com uma equipa maioritariamente formada por suplentes. Por isso, com uma semana para estabilizar emocionalmente, há poucas razões para os portistas se deixarem levar pelo pessimismo, só porque não vão ter Quaresma nos próximos dois jogos da Liga, as recepções ao Estrela da Amadora – já é um hábito, que o “Mustang” não esteja contra os tricolores da Reboleira – e à Naval. Mesmo tratando-se de duas equipas em clara ascensão: o Estrela não perde um jogo de campeonato desde o início de Novembro; e Mariano Barreto está a ter um efeito notável no rendimento da Naval, com duas vitórias e um empate, sem sofrer golos, nas três deslocações que lhe marcaram o início do trabalho na Figueira da Foz.
O que importa ao FC Porto neste momento não é tanto discutir se Quaresma foi bem ou mal expulso, mas sim pensar no que fazer sem ele. Até hoje, só por uma vez a ausência de Quaresma redundou na alteração do esquema táctico: foi na penúltima jornada de 2004/05, uma deslocação a Vila do Conde, que José Couceiro transformou o habitual 4x3x3 num 4x4x2 chamando ao onze Maniche para render Quaresma. De resto, Adriaanse e Jesualdo Ferreira optaram sempre por manter o esquema táctico, substituindo o virtuoso cigano por outro extremo – Alan ou Lisandro Lopez. Ora, se Lisandro Lopez está já no onze titular, Alan apresenta-se em quebra perante a subida de rendimento de Vieirinha. Este último será, assim, pela segunda vez titular do FC Porto em jogos oficiais.
Até ao momento com 219 minutos em campo, divididos por nove jogos, nos quais até fez um golo – na Supertaça –, Vieirinha só começou de início um jogo: a derrota contra o Atlético. Não impressionou, mas ainda sofreu o penalti que Quaresma acabou por enviar ao poste. Desta vez, vai pedir-se-lhe que se exceda e que tente igualar em rapidez, criatividade e, sobretudo, descaramento, o efeito que Quaresma tem na equipa. É que oportunidades como esta, o jovem oriundo da formação portista não vai ter muitas mais. Sobretudo se hoje for irrelevante.


DÚVIDAS LEGÍTIMAS
Porque sofre o Sporting com Custódio?
Custódio é o jogador que sempre foi: muito posicional, útil na ajuda aos centrais, mas quase exclusivamente defensivo. O resto da equipa é que está a render menos nas transições ofensivas. Neste estado de coisas, rendem mais ali Moutinho, que sobe mais no terreno, ou Veloso, que estica a equipa com passes longos.

David Luiz é a solução para o Benfica?
Talvez até seja, mas ninguém – dirigentes incluídos – tem um mínimo de certeza acerca disso. Perder dois dos quatro defesas centrais originais, um dos quais a fazer de titular durante mais de metade da época, e contratar uma jovem esperança brasileira, sem experiência de competição ao mais alto nível, é arriscar demasiado.

Costinha e Maniche fazem falta à selecção?
Depende de que Costinha e Maniche teríamos. Os jogadores que não se saem da mediania no Atlético Madrid – quando jogam – não são melhores opções do que Tiago, Moutinho, Deco ou Petit. Mas, em ocasiões anteriores, Scolari nunca foi sensível a argumentos como a forma actual ou a utilização no clube, pelo que alguma coisa se passou.



PÉ DE PÁGINA
GOSCINNY. O Nacional-Marítimo tinha alguma coisa de um livro de Asterix. De um lado os corajosos gauleses, do outro os poderosos romanos. E para o caso nem interessa quem é quem. Entrega total, como se pelo meio houvesse o incentivo de uma qualquer poção mágica, que o que estava em causa era o orgulho de uma tribo. E os chefes presentes, não em cima de um escudo, mas no relvado, perto dos seus homens, a sofrer com eles.

UDERZO. As imagens remetiam quem estava a ver para o mesmo universo. O campo exíguo, no cimo de uma montanha, fortificado por todos os lados; a claque feminina a fazer as vezes das mulheres dos guerreiros; e o ar de satisfação genuína, quase fanfarronice, de Rui Alves na galhofa, a contrastar com o semblante preocupado de Carlos Pereira, qual César a antever a incapacidade para submeter os irredutíveis nacionalistas.

ENTRETENIMENTO. Pode haver quem ache – e provavelmente com razão – que tudo isto são aspectos folclóricos, se calhar até pouco edificantes, do futebol, só possíveis num micro-cosmos como a Madeira. Mas digo mais. Se todos os jogos fossem como o último “derby” do Funchal, se em todos se pusesse a paixão que aquele tinha latente, não tínhamos tantos estádios às moscas como por aí se vê. Porque tudo aquilo é entretenimento.

Publicado em Record Dez, 3/2/2007

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