sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Paços de Ferreira - Pressão constante

Se há marcas no futebol do Paços de Ferreira elas são a pressão constante exercida sobre o portador da bola e um bloco recuado de modo a convidar o adversário a esticar-se para depois o punir com velozes contra-ataques lançados pelos extremos. É um futebol muito semelhante ao que desenvolvia o antigo Boavista de Jaime Pacheco, aquele que foi campeão, mas com uma diferença grande nos argumentos futebolísticos das linhas recuadas.
Os quatro defesas do Paços não estão lá para jogar mas apenas para impedir o adversário directo de o fazer. Antunes ainda se mostra nos livres frontais e sobre a direita, mas nem ele nem Mangualde se aventuram muito para lá da linha de meio-campo. Frente ao Sp. Braga, só 39 por cento (17 em 43) das intervenções do lateral direito aconteceram no meio-campo ofensivo, enquanto no caso do defesa-esquerdo esse percentil até caiu para 30 por cento (17 em 55), algo parcialmente explicado pela maior propensão atacante de Pedrinha relativamente a Elias. Por sua vez, os dois centrais limitam-se a trocar bolas entre eles até que um – quase sempre Luiz Carlos – opta por entregar à esquerda ou despachar por alto para a frente na esperança que o ponta-de-lança a capte.
Como o guarda-redes também escolhe invariavelmente a saída de bola longa, o jogo do Paços começa verdadeiramente no momento em que os homens de meio-campo recuperam a iniciativa. Paulo Sousa, que se encarrega da marcação ao “número 10” adversário, ficou com a parte de leão, com 29 recuperações, contra 21 de Pedrinha e 16 de Elias. Pedrinha assume as funções de estratega, distribuindo jogo curto por quem melhor se disponibiliza, seja um parceiro de meio-campo, para uma progressão em tabela; seja um extremo, se a escolha passa por lançar um ataque rápido; seja até o ponta-de-lança que, dada a escassez de cruzamentos, está condenado a jogar de costas para a baliza e a funcionar como mero tabelador de uma equipa que fica muito atrás.
Do ponto de vista do ataque organizado, o Paços não é brilhante. Mas a pressão constante acaba por render frutos. Contra o Braga, valeu dois golos, ambos nascidos de recuperações de bola imediatamente anteriores à conclusão.


PAULO SOUSA
À moda antiga
Não é forte fisicamente (1,75m por 70kg) mas corre quilómetros e destaca-se como “cabeça-de-área” à moda antiga, daqueles que marcam o melhor jogador do adversário. Contra o Sp. Braga, Paulo Sousa começou por maçar João Pinto e, quando este deu o lugar a Diego, repetiu a graça. Ao todo, recuperou 29 bolas, das quais entregou 18 jogáveis. É verdade que só quatro dessas acções aconteceram no meio-campo ofensivo e que escapou de forma incrível à acção disciplinar (oito faltas cometidas), mas foi ele o primeiro dínamo do Paços e o único jogador a entregar bolas a todos os colegas de equipas, de Peçanha a João Paulo.

PEDRINHA
Estratega trabalhador
Só Paulo Sousa (29) e Geraldo (22) recuperaram mais bolas do que Pedrinha, o homem que pegou na definição do jogo ofensivo do Paços de Ferreira e que se destacou também pelo total de bolas ganhas para lá da linha de meio-campo (13). Com posse de bola, não apresenta a folha limpa de erros de Paulo Sousa (que apenas errou três passes), mas esteve ainda assim melhor que Elias (que falhou 12 de 24 entregas). E o risco que teve de assumir em alguns lances ajuda a explicar parte dos erros de um médio a quem faltou um pouco de “chegada”; além dos cantos, só foi aos últimos 16 metros para fazer o remate que deu origem ao golo de João Paulo.

Publicado em Record, 31/1/2007

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