E. Amadora - Fortaleza em zona

O Estrela da Amadora que venceu no Dragão surpreendeu sobretudo pela qualidade da sua organização defensiva e pela facilidade com que mudou de esquema táctico sem que a produção global da equipa tenha sido afectada. A defender em zona pura, a equipa de Daúto Faquirá teve de jogar muitas vezes dentro da área, mas manteve a baliza de Paulo Lopes inviolada. Muito graças à qualidade do trabalho defensivo dos dois médios-centro, Marco Paulo e Luís Loureiro, sempre impecáveis como tampões, a bloquear o jogo interior do FC Porto.
Para ser ameaçador no ataque, contudo, o Estrela teve de esperar que o FC Porto se destapasse atrás. Antes, Daúto já tinha colocado um jogador mais defensivo na lateral-esquerda (Carreira), pedindo a Edu Silva que progredisse para a posição de extremo do mesmo lado. Mas foi quando Jesualdo Ferreira passou a defender apenas com três homens que o Estrela deu a estocada fatal – Rui Borges, até então utilizado como jogador-alvo no centro do ataque, cedeu o lugar a Zamorano, que se colocou numa ala; Anselmo passou para o meio, dando profundidade à equipa; e Tiago Gomes, até aí o jogador mais avançado no triângulo de meio-campo, passou a explorar a ala deixada vaga. A troca deu duas situações de golo evidente, uma das quais valeu mesmo os três pontos.
O processo ofensivo do Estrela, até esse momento, passava sempre por um pontapé largo de Paulo Lopes, quase sempre em direcção a Jones ou Rui Borges, dois pesos-pluma que, contudo, pela velocidade e pela capacidade de antecipação, ganharam muitas bolas aéreas aos centrais adversários. O destino das jogadas era depois invariavelmente Tiago Gomes, que se encarregava de escolher caminhos, ora oxigenando o jogo atrás, nos apoios de Loureiro e Marco Paulo, ora optando pela amplitude, combinando com os dois extremos, Nuno Viveiros e Jones. Fora do circuito preferencial estiveram os quatro defesas, embora também eles tenham deixado perceber um padrão comportamental – os centrais, pouco atrevidos em posse, abriam o jogo ao lateral respectivo, e era este que procurava Rui Borges com um passe largo.

AMOREIRINHA
Jogador de área
Jogando primeiro como defesa-central pela esquerda e, depois, com a entrada de Carreira, trocando de posições com José Fonte, Daniel Amoreirinha fez um jogo quase perfeito embora também quase puramente defensivo. Das suas 46 intervenções, 29 foram puramente defensivas: duas faltas e 27 recuperações, item em que apenas foi batido por Marco Paulo (28 bolas conquistadas). O espelho fiel da perfeição da actuação do jovem central está na forma como não se deixou sequer intimidar com o facto de 12 das suas recuperações terem sido no interior da área, onde um erro podia ser fatal. Em contrapartida, também só cruzou a linha de meio-campo duas vezes.

TIAGO GOMES
Dois homens num só
Num mesmo jogo, tivemos dois Tiago Gomes. Primeiro um médio cerebral, que se posicionava sempre em função de Loureiro e Marco Paulo para as triangulações, definia o rumo da equipa e lhe dava o toque de risco atacante. Nesse período, pelo posicionamento no terreno, foi igualmente o mais eficaz recuperador alto da equipa (cinco recuperações completas e duas incompletas no meio-campo ofensivo, uma das quais com remate). Depois, quando houve mais espaço, assumiu-se como segundo extremo, procurou a linha de fundo e acertou dois cruzamentos para Anselmo. Até então, do ponto de vista da conclusão, só se tinha destacado pela insistência rematadora, mas sem grandes resultados práticos.

Publicado em Record, 7/2/2007