sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

O ano de Ronaldo

O ano de Ronaldo

Percebe-se o que disse Luiz Felipe Scolari quando afirmou que 2007 ia apresentar o maior desafio que a selecção nacional teve de encarar nos últimos anos. Bem ou mal, até aqui Scolari limitou-se a aproveitar o trabalho até então desenvolvido com a chamada “geração de ouro” e a dar-lhe espírito competitivo. Não é pouco, mas também não era assim tão difícil. A partir daqui, há que fazer uma nova selecção, sem esperança no regresso de Figo, sem sucessor designado para Pauleta. É um trabalho diferente mas, felizmente para Scolari, está lá Ronaldo. E há poucas dúvidas de que 2007 vai ser o ano de Cristiano Ronaldo.
Basta ver os jogos da Liga inglesa para o perceber. Sem jogar como ponta-de-lança, Ronaldo é o segundo melhor marcador da competição, apenas batido pelo fenómeno Drogba. Está um portento físico, a arrancar com bola perante adversários impotentes, sempre com os olhos na baliza e não na relva fofa, a driblar sem exageros, com beleza mas mais eficácia, a aprender o momento certo para o passe, a mover-se com inteligência táctica entre a ala e o segundo poste, onde aparece muitas vezes a concluir ou a recargar com sucesso. Prejudicado por polémicas estivais como as acusações de “mergulhador” que lhe roubaram o título de melhor jovem jogador do Mundial, o alegado envolvimento na expulsão de Rooney no jogo com a Inglaterra ou os romances mediáticos e de cariz promocional para quem com ele era visto, Ronaldo serviu-se de tudo isso para crescer como homem e como futebolista e encara 2007 como o ano da afirmação global.
Para o ajudar na tarefa, tem um clube de referência, adorado por todo o Mundo como o Manchester United, um treinador experiente e conhecedor como Alex Ferguson e um adjunto que pode enquadrá-lo e defendê-lo por com ele partilhar a nacionalidade e a língua materna como Carlos Queiroz. Necessita ainda de uma selecção ambiciosa, com o lugar de liderança por preencher. É que a saída de Figo deixou a equipa órfã e Scolari precisa que Ronaldo preencha a vaga. Deco não pode ser líder, porque apesar de tudo é brasileiro, Ricardo Carvalho porque é muito calado, Jorge Andrade porque não se sabe quando e como regressa, Costinha porque, se tudo correr como até aqui, vai mesmo perder o comboio da titularidade. Se, como já disse, quer ser o melhor do Mundo um dia, Ronaldo precisa de agarrar esta oportunidade com as duas mãos e impor a liderança como a concebe: dentro de campo, a fazer cantar uma bola de futebol.
Para o conseguir, Ronaldo precisa de unir em seu torno a “geração Scolari”. Deco, Postiga, Miguel, Quaresma, Ricardo Carvalho, João Moutinho e Nani, todos lançados às feras pelo “Sargentão”, vão ser a nova base da selecção, gritando em uníssono que o trabalho de renovação está feito. Integrando os que restam de gerências anteriores, era o que mais faltava não se qualificarem para o Europeu.

Publicado em Sábado, 4/1/2007

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