No tempo em que a televisão ainda não tinha humanizado os futebolistas através da exposição permanente, havia verdadeiros heróis da Taça. Ao Cabeça Gorda bastou, em 1980, eliminar o Penafiel e o Leixões para entrar na história e assegurar que, com quatro jogos ao todo feitos na história da Taça de Portugal, seria recordado mais de 25 anos depois. É verdade que os seus jogadores não apareceram no tubo catódico a comer leitão nem a mandar mensagens de telemóvel e que isso nos permitia imaginar sessões científicas de preparação no Alentejo profundo. É verdade ainda que o nome do clube também dava uma grande ajuda – não se banalizou a proeza metendo um David a marcar o golo da vitória e a facilitar a tarefa a quem tinha de fazer os títulos dos jornais –, mas a razão fundamental pela qual ainda hoje nos lembramos do Cabeça Gorda tem a ver com a dimensão da proeza.
Nos anos 70/80, para uma equipa dos escalões inferiores eliminar outra da I Divisão, era necessária uma clara inversão dos valores em campo. Havia, verdadeiramente, um tomba-gigantes. Hoje em dia, na maior parte das vezes, são os gigantes que se agacham. Em 1998, o FC Porto de Fernando Santos já tinha sido eliminado, em casa, pelo Torreense, que vivia dois escalões abaixo. Em 2002, foi o Benfica de Jesualdo Ferreira quem caiu na Luz ante o Gondomar, também da II Divisão B. Em 2003, Laszlo Bolöni e o Sporting deixaram-se surpreender em casa pela Naval, então na II Liga. No mesmo ano, mas na nova época, Alvalade voltou a ser palco de surpresa, quando o Sporting de Fernando Santos foi afastado pelo V. Setúbal, igualmente da II Liga. Agora aconteceu ao FC Porto de Jesualdo Ferreira, contra o Atlético, e com um factor em comum com as anteriores – alguns dos melhores jogadores estavam na bancada.
Podem até argumentar que, mesmo sem Helton, Bosingwa, Pepe, Bruno Alves, Lucho González, Lisandro Lopez e Hélder Postiga, todos eles titulares habituais poupados ao escândalo do Dragão, o FC Porto ainda tinha uma equipa largamente superior à do Atlético. É verdade. Mas, cada vez mais, a diferença entre as equipas deve ser temperada com a atitude em campo. E, contra o Atlético, o FC Porto tinha em campo meia dúzia de jogadores sem ritmo e uma mão cheia deles a quem não serve de nada dizer que o jogo é para levar a sério, quando se passa uma mensagem diferente na formação do onze. “Então isto é a sério e os maiores craques estão a ver na bancada? Está bem, está…”, terão pensado os homens a quem, consumado o escândalo, se lembrou que tinham que ser sérios e empenhados.
Da mesma forma como acho que Jesualdo Ferreira fez um trabalho notável na modificação do modelo de jogo do FC Porto, desmistificando Adriaanse e colocando a equipa a atacar muito mais – e melhor –, também entendo que a derrota com o Atlético tem um nome destacado na nota de culpa. E é o do treinador.
Publicado em Sábado, 11/1/2007
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
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