O caso Mantorras envolve uma complexa teia de interesses e necessidades e só não tem uma dimensão de conflito aberto devido ao relacionamento fortíssimo entre o atacante angolano e Luís Filipe Vieira, uma espécie de pai adoptivo desde os tempos do Alverca. Neste momento, esteja ou não o jogador em boas condições, Mantorras e o Benfica estão condenados a entender-se, a suprir as necessidades um do outro na base de uma boa fé e de uma compreensão mútua que, no entanto, não vai durar sempre.
Fernando Santos disse no final do Benfica-U. Leiria que “toda a gente sabe que o Mantorras não está em condições de jogar 90 minutos”. É um facto: toda a gente sabe. Mas, seja para proteger o jogador da curiosidade alheia ou para esconder a forma nem sempre correcta como se lidou com o problema físico que o apoquenta desde 2002, da Luz nada mais tem chegado do que sucessivas manifestações de confiança na recuperação total do problema que fez de Mantorras um reformado aos 20 anos. Por isso, causa estranheza ver um avançado do potencial não só futebolístico como também anímico do angolano a jogar aos poucos, quando joga: esta época soma 212 minutos de utilização em 13 jogos, a uma média de 16 minutos por desafio.
Contudo, como o público gosta dele, não são raras as ocasiões em que, só por entrar em campo, Mantorras levanta o moral da equipa. Mais: às vezes, até se lembra de como se fazem golos e garante vitórias importantes ao pé coxinho, como foi o caso no domingo e já tinha sido em algumas partidas decisivas do ano do título com Trapattoni. Por isso, Mantorras continua a fazer falta a um Benfica que, além dele, só tem mais um avançado e meio. O avançado é Nuno Gomes, o meio é Miccoli que, também disse o treinador, tem excesso de peso e, por isso, está condenado a alternar períodos de fulgor com frequentes lesões musculares – algo que, em Itália, ninguém sabia, pois só em duas das sete épocas que fez nas duas principais divisões italianas participou em menos de 30 jogos.
A questão é que o contrato de Mantorras tem mais quatro anos – só acaba em 2011. E, se o encaixe de mercado deste defeso pode fazer pressupor que haverá dinheiro para outro avançado no imediato, tornando a necessidade que o Benfica tem de Mantorras menos premente, são as possibilidades de Luís Filipe Vieira ceder o lugar a um presidente menos compreensivo com o drama humano do angolano no mais longo prazo que mais podem afectar o jogador. Em 2011, Mantorras terá 29 anos. Já não será um jovem, mas ainda teria muito para dar ao futebol. Se o problema físico que o afecta não estiver resolvido, o Benfica estará a completar nove anos de contrato com um jogador diminuído, com um estatuto que, para ser futebolista, o aproxima da invalidez parcial – algo de louvável mas que o clube não quererá eternizar. E resta saber se alguma seguradora aceitará ressarcir Mantorras depois de ele ter andado a jogar magoado durante tanto tempo.
Publicado em Sábado, 25/1/2007
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
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