António Dias da Cunha reapareceu na semana passada nas páginas dos jornais, ao lado de Luís Filipe Vieira e Sequeira Nunes, precisamente na altura em que os seus sucessores se aprestam para consumar mais uma ruptura com aquilo que o anterior presidente do Sporting defendia, começando a preparar os sócios para autorizarem que o clube abra mão da maioria no capital da SAD. A ser uma coincidência, seria demasiado perfeita, pelo que provavelmente não o terá sido. Não creio, contudo, que Dias da Cunha tenha aspirações a voltar ao Sporting – tem, isso sim, convicções fortes, facilmente confundíveis com a mania de que tem sempre razão.
Foi, aliás, por achar que tinha razão que se demitiu “violentado” no dia em que se viu forçado a despedir o treinador José Peseiro. Ora este, mostrando a genuinidade e a falta de tacto político que já lhe custaram o lugar no clube – se quisesse capitalizar em nome próprio, nunca daria uma entrevista a falar do Sporting após dois jogos que o seu sucessor ganhou com um ‘goal-average global de 11-1 –, acabou esta semana por engrossar as fileiras saudosistas despertadas por Dias da Cunha, ao dizer que o alvo dos que lhe fizeram a vida negra era precisamente o presidente. Como justificação, não colhe: não tenho dúvidas de que, a partir de uma determinada altura, Peseiro foi mesmo vítima de uma campanha, mas acho que ele está a ser demasiado modesto quando diz que “comeu por tabela”. Não. Quem quis afastar Peseiro fê-lo pelas mesmas razões que levaram agora Dias da Cunha a reaparecer: estava convencido de ter a cura para o problema.
A parceria entre Peseiro e Dias da Cunha foi conjuntural. O presidente apoiou-se em Paulo Andrade e este entrou em conflito com Carlos Freitas relativamente à condução do futebol do clube. Por sua vez, depois de ter feito parte dos que o escolheram (com José Eduardo Bettencourt à cabeça), Freitas também estava a começar a descrer nas capacidades de Peseiro, em parte por não o ver na sua trincheira na luta com Andrade, em parte por causa do relacionamento difícil deste com Pedro Barbosa, Rui Jorge e, por arrastamento, Paulo Bento, com os quais partilhava – e partilha – uma visão para o clube. Ora, no futebol como na matemática, menos com menos dá mais: os inimigos dos teus inimigos, meus amigos são. Foi por isso que Dias da Cunha e Peseiro foram empurrados para os braços um do outro, como náufragos numa jangada de troncos de árvore, abandonada no meio do mar alto. Afogaram-se em poucos meses.
No fundo, Peseiro não foi afastado para atingir Dias da Cunha, mas foi este que se afastou quando viu que não conseguia segurá-lo. Não porque gostasse assim tanto do técnico, mas sobretudo porque era para ele insustentável ver o clube dirigido “de fora para dentro”. Precisamente aquilo que ele acha que pode suceder se o capital da SAD for aberto, em mais de 50 por cento, ao público. E assim já se percebe o reaparecimento de Dias da Cunha.
Publicado em Sábado, 15/2/2007
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
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