O zambiano Mbesuma é um ponto central da estratégia de Ulisses Morais para o Marítimo. Apesar de raramente ser capaz de dar seguimento às bolas que recebe de costas para a baliza, dá tanta luta a quem com ele as disputa que as deixa muitas vezes à mercê de um médio ofensivo com raras capacidades de recuperação como é Marcinho. Por isso, o futebol que o Marítimo mostrou no Bessa foi sempre muito directo para o ponta-de-lança, perdendo em segurança de passe o que ganhava em expansão territorial e em rapidez de aproximação à baliza de William.
O guarda-redes Marcos quase nunca batia bolas longas – deixava mesmo aos dois laterais a tarefa de marcar os pontapés-de-baliza –, preferindo entregá-las curtas, a um dos centrais, preferencialmente Gregory. É que o francês mostrou maior segurança no passe longo que o seu parceiro Milton do Ó (77 por cento de passes certos, contra apenas 50 por cento do brasileiro). Aliás, a baixa percentagem de passes completados por qualquer dos quatro defesas (Briguel teve 50 por cento e Evaldo 54 por cento), se comparada com a certeza dos dois médios defensivos (Olberdam teve 75 por cento e Wênio 87 por cento) justifica-se com o tipo de entrega tentada: os primeiros procuravam sobretudo Mbesuma ou um dos extremos e os passes em profundidade, os segundos funcionavam como limpa-pára-brisas, varrendo a zona de meio-campo e distribuindo jogo de forma horizontal, nas respectivas alas, ao lateral ou ao extremo que tivesse recuado para vir buscar jogo.
De qualquer modo, Wênio só intervinha numa fase mais desesperada da situação, colocando-se como médio mais posicional e de ajuda aos centrais. E os primeiros potenciais recuperadores das segundas bolas vindas da luta de Mbesuma com os defesas do Boavista eram Marcinho e Olberdam. Se o primeiro conseguiu 12 recuperações de bola no meio-campo ofensivo (uma das quais originou o golo que o próprio marcou), o segundo acabou o jogo com 10 das suas 22 recuperações para lá da linha de meio-campo, ajudando bastante o pressing madeirense.
MARCINHO
Um dez recuperador
No Brasil, Marcinho não jogava como 10. Tinha obrigações defensivas que lhe moldaram o carácter de futebolista lutador e nada acomodado. No Bessa, foi o homem que jogou mais perto do ponta-de-lança, apareceu com frequência tanto numa faixa lateral como na outra, sempre à procura de desequilíbrios em conjugação com o extremo e o lateral desse lado, e nunca fugiu dos últimos 30 metros, onde apareceu tanto em acções ofensivas como defensivas. Daí que tenha acabado o jogo com 17 recuperações de bola (12 no meio-campo ofensivo), tenha feito um golo, acertado outra vez na baliza e conseguido duas assistências, para remates de Kanu e Milton do Ó.
MBESUMA
Entregue ao inimigo
Mbesuma só deu bom seguimento a 17 das 46 bolas que tocou, mas nem por isso terá deixado o treinador irritado com a sua prestação. De físico robusto – é quase quadrado – o avançado zambiano está lá para dar luta aos defesas centrais adversários nos passes longos e, no caso de a bola que sobra desse choque ir parar a um companheiro, tentar explorar o espaço nas costas da defesa, pedindo passes profundos aos médios. Como a defesa do Boavista nunca se adiantou muito, este espaço nunca foi convidativo e a tarefa do zambiano foi quase só a de chocar com quem tentava recuperar a bola. Mesmo assim, ainda rematou duas vezes, as únicas em que entrou na área.
Publicado em Record, 17/1/2007
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
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